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“Má educação”: pensar a escola pode ser um combate em forma de teatro

Tiago Mendes Dias
Educação \ quinta-feira, março 02, 2023
© Direitos reservados
O ringue de boxe e o voo dos pássaros são metáforas para as três possíveis relações entre professor e aluno, expressa numa peça da Formiga Atómica que reúne teatro e dança, em exibição no CCVF.

Os alunos entre o 5.º e o 12.º ano constituem as primeiras franjas de público em Guimarães a poderem usufruir de “Má Educação – Peça em 3 Rounds”, uma peça que explora as possíveis relações entre “mestre e discípulo”, segundo o paradigma da Grécia Antiga, ou entre professor e aluno para refletir sobre a escola do passado, a escola que existe e a escola por vir, em exibição no Centro Cultural Vila Flor (CCVF) até sábado.

Mais de 300 estudantes viram, na manhã desta quinta-feira, a primeira sessão de uma peça que lhes dá três assaltos de luta, equivalentes três possíveis perfis de relação com quem os ensina: um em que “o professor domina e esmaga o aluno”, num fenómeno “absolutamente castrador”, ligado “a uma escola do passado, com 200 anos”, outro em que “o bom discípulo é aquele que consegue “matar” o seu mestre e seguir o seu caminho”, mas como “pássaro que quer voar sozinho e não tem ainda as ferramentas” e um terceiro “mais perto de uma ideia de utopia, em que a relação entre professor e aluno é de verdadeira complementaridade”, esclarece um dos diretores da companhia Formiga Atómica, Miguel Fragata.

“São os dois necessários para que o voo aconteça”, esclarece o encenador, frisando que a ideia dos três rounds partiu das leituras dos escritos do filósofo e ensaísta George Steiner sobre educação.

Esta peça, que volta a ser exibida aos alunos na sexta-feira, às 10h30, e ao público em geral no sábado, a partir das 16h00 – o custo unitário dos bilhetes é dois euros -, propõe uma reflexão sobre as várias relações estabelecidas em redor da escola, seja “entre professor e aluno, entre professor e sistema, entre mestre e discípulo, entre passado e futuro”, a partir de um processo de “combate e conflito”. “Há vontade de rasgar com a escola e um passado convencional, mas isso faz-se sempre numa lógica de combate e de conflito”, acrescenta.

A outra diretora da companhia, Inês Barahona, realça, que, depois de um processo de pesquisa junto de vários agentes escolares – não só alunos e professores, como também as pessoas por norma “invisíveis” nos “processos de auscultação”, como auxiliares, pessoas na portaria, motoristas de autocarros escolares ou cozinheiros -, a “reflexão sobre as relações” se afigura como o eixo mais importante para se pensar a escola.

“O desafio foi não só pegar naquilo que era queixa, mas também lançarmo-nos na imaginação e na criação de uma escola dos nossos sonhos. Foi interessante observar as respostas a este desafio. Foi difícil sair da escola que conhecemos”, vinca.

O voo dos pássaros é outra das metáforas pelas quais se guia o espetáculo; na escola ideal, professor e aluno “voam em conjunto”, realça a cofundadora da Formiga Atómica. “Se um voa, o outro também voa. Isso deriva de quem viveu relações entre professor e aluno muito gratas. São as que ficam na memória”, completa.

O espetáculo é, porém, mais visual do que verbal, mesclando o teatro e a dança, graças à colaboração do coreógrafo vimaranense Victor Hugo Pontes. Essa dimensão visual traduz-se numa “abertura de possibilidades”, sublinha Miguel Fragata. “Este desejo de trabalharmos a dança vem da intenção de produzir um espetáculo muito visual, com leituras muito amplas para lá do que se diz e que pode ser moralista. Não queremos ser moralistas”, realça.

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