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“Escândalos e injustiças”. Há jogos das AF Braga com risco de contestação

Bruno José Ferreira
Desporto \ sábado, março 23, 2024
© Direitos reservados
Há árbitros a ajuizar jogos da sem passar nas provas físicas e até sem aprovação nas provas teóricas. Em sentido inverso, jovens árbitras viram a subida aos nacionais barradas pela falta de jogos.

A arbitragem dos campeonatos distritais da Associação de Futebol de Braga (AF Braga) tem estado envolta em polémica, levando mesmo Manuel Machado a referir, em comunicado, que algumas das situações que têm sido reportadas “poderão estar no limiar da responsabilidade criminal”, tratando-se, portanto, segundo o presidente da AF Braga, de casos “de uma enorme gravidade”. Esta reação institucional por parte do organismo que tutela o futebol regional deve-se a “sinais que evidenciam um eventual funcionamento anómalo do Conselho de Arbitragem”, sinais esses que surgem de vários quadrantes e que estão a ser espoletados através de denúncias anónimas que têm chegado quer à AF Braga quer ao Conselho de Arbitragem, e ainda a árbitros e núcleos de árbitros.

Entre os vários e-mails – alguns dos quais o Jornal de Guimarães teve acesso e outros divulgados nas redes sociais –, são denunciados casos concretos referentes a nomeações de árbitros para diversos jogos de vários escalões sem aptidão para tal, nomeadamente sem passar nas provas físicas e até, em alguns casos, sem aprovação nas provas teóricas. Em sentido inverso, jovens árbitras acabaram por não subir aos quadros nacionais da Federação Portuguesa de Futebol por não terem sido nomeadas para arbitrar jogos suficientes.

Na sequência da divulgação destas situações, após “o primeiro email anónimo, o Conselho de Disciplina (…), não demorou a instaurar um processo de averiguações”, pode ler-se no comunicado emitido pela AF Braga. De resto, no mesmo documento, datado de 22 de fevereiro, é anunciado que teve lugar dois dias antes – a 20 de fevereiro – uma reunião de emergência com o presidente da assembleia geral da AF Braga, Alves Pinto, com o presidente do conselho de justiça, Jorge Varanda, o presidente do conselho de disciplina, João Gonçalves, e ainda com o secretário-geral da AF Braga, Jorge Monteiro, “com o propósito único de analisar as suspeições que foram lançadas sobre o conselho de arbitragem, e encontrar as melhores soluções para garantir a tranquilidade geral das competições e das carreiras dos árbitros”.

 

“Escândalos e injustiças todos os fins de semana”

Num dos e-mails a que o Jornal de Guimarães teve acesso, são reportados casos que fazem com que os árbitros estejam “cansados e revoltados” com os organismos que tutelam o setor na AF Braga. Um dos casos que está a levantar mais celeuma é o jogo entre AD Oliveirense e Bairro, a 11 de fevereiro, que terminou empatado sem golos. O clube de Famalicão contestou esse jogo, uma vez que o árbitro do encontro reprovou no teste escrito e não foi substituído.  “O árbitro José Barbosa não foi o único caso em que um árbitro chumbou no teste escrito e teve seniores, houve mais casos de árbitros que chumbaram nos testes escritos e tiveram jogo de seniores”, é descrito no email, sendo que noutros casos semelhantes o jogo contou com observador. “Podiam ter sido vários os jogos a ser contestados”, alertam.

É também dado como exemplo o caso da árbitra Filipa Manso, filha de Nuno Manso – árbitro auxiliar de 1.ª categoria da Liga –, que não passou nas provas físicas, mas ainda assim continua a ser nomeada recorrentemente para ajuizar jogos. São apontados de forma pormenorizada 25 jogos de camadas jovens, enquanto árbitra principal e mais 17 enquanto assistente, inclusivamente sendo indicados os valores auferidos com a realização destes jogos. “Para não falar que, além desta árbitra, existe uma quantidade surreal de árbitros sem testes escritos, provas físicas e exames médicos desportivos […] a apitar todos os fins de semana”, enunciam.

À boleia deste caso, nas referidas mensagens de correio eletrónico, é apontada outra realidade, essa considerada “um escândalo a nível nacional”. “No ano passado, as jovens árbitras Joana e Jéssica estavam aptas para subir à FPP”, é referido. As árbitras em questão, Jéssica Silva e Joana Fernandes, eram duas das que estavam em condições de subir de categoria, podendo passar a pertencer aos quadros nacionais da Federação Portuguesa de Futebol (FPF), com “provas e teste escrito realizado”, mas acontece que, pelo “facto de não terem jogos suficientes”, “não puderam subir”. “Uma vergonha”, consideram, quando o número de árbitros escasseia, mas há juízes cujo número de jogos, insuficiente, os impede de ascender a categorias mais elevadas.

 

“Revoltados e desmotivados”, os árbitros temem a “lista negra”

Estavam três árbitras indicadas à FPF para poderem subir de categoria, juntando-se Beatriz Canuto, a árbitra com melhor classificação na temporada 2022/2023, sendo descrita nos e-mails uma relação profissional entre a mãe desta última árbitra e o presidente do Conselho de Arbitragem, Cunha Antunes. “O ano passado foi a árbitra com mais jogos desta associação”, sendo que terá arbitrado a maioria dos jogos noturnos, que beneficiam de um subsídio extra por se realizarem nesses horários.

“Sinto-me injustiçado”, atira o autor de um dos emails, dizendo ser árbitro. Assume que “a maioria dos árbitros anda revoltada e desmotivada” com estes acontecimentos, que levaram a que estruturas como a AF Braga e o Conselho de Arbitragem trocassem comunicados. “Temos medo das represálias que podemos sofrer, de ir para a lista negra”, remata.

O Jornal de Guimarães contactou os núcleos de árbitros de futebol existentes em Guimarães, o Núcleo de Árbitros de Futebol de Guimarães e o Núcleo de Árbitros de Futebol do Ave, que preferiram não se pronunciar sobre toda a situação gerada em torno do setor, entendendo não ser oportuno gerar ainda mais conflitos e desconfiança numa fase decisiva da época desportiva.

 

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