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No Espaço Oficina, um ensaio sobre relações: artísticas, laborais, humanas

Tiago Mendes Dias
Cultura \ terça-feira, outubro 03, 2023
© Direitos reservados
Após três anos de residência artística – ficcional -, um grupo de performers vai aclarando os elos e as fissuras desse processo. Nova criação do Teatro Oficina, “Ensaio Técnico” estreia-se na quarta.

São quatro os intérpretes que ocupam o centro do Espaço Oficina; eles começam a discursar como quem fala do seu mais recente projeto de investigação numa qualquer conferência académica. Mencionam várias das referências do que se designa por “performance contínua e aberta” – campo artístico que difere do teatro -, distribuem livros de estudo pela plateia e falam do dia a dia do estágio realizado na Áustria. No regresso a Portugal, uma das personagens, Beatriz, cria um complexo para uma residência artística exclusivamente dedicada à performance, onde o grupo passa três anos. São as quatro narrações dessa experiência – em texto, em performance e em filme – que fazem transparecer os pontos de união e os pontos de fricção entre eles. E também com uma quinta personagem que não aparece em palco, João.

“Criaram uma bolha muito complexa e muito deles. As relações são muito cândidas, mas também perversas. Vemos ali a figura do João, o líder do grupo, que podia ser o encenador. Vai-se perceber a bolha que criaram. Há uma parte teórica muito grande, mas a ideia é que a abordagem perante o público seja o mais simplificada possível”, frisa Mickaël de Oliveira, diretor artístico do Teatro Oficina e encenador de “Ensaio Técnico”, a sua mais recente criação.

A obra estreia-se esta quarta-feira, às 21h30, e estará em exibição até sábado, todos os dias, à mesma hora. Beatriz Wellenkamp Carretas, Joana Pialgata, Siobhan Fernandes e Zé Ribeiro são as atrizes e o ator que dão vida a personagens marcadas pela experiência que viveram em grupo, um grupo que se dissolveu após o término da residência artística em “performance contínua e aberta”.

“É uma performance muito livre, que não precisa de um contexto artístico e institucional. Precisa da autodeterminação do artista. Este grupo vai explicar o projeto e falar da vida em comunidade. Vamos perceber como é que a nível humano as coisas se relacionavam”, afirma o encenador e dramaturgo, reconhecendo que “a perversidade em palco pode acontecer em qualquer local de trabalho”.

As menções a João, “líder e o ideólogo daquilo”, fazem sofrer quem dele fala. “Percebe-se que o João é alguém que cometeu abuso, um despotazinho daqueles modernos. No teatro, lidamos muito com isso, com equipas grandes, com a sanidade na criação”, admite Mickaël de Oliveira. Por isso, “Ensaio Técnico” é um espetáculo que se debate em torno do “que representar”, “como representar”, “o que é legítimo representar” e “quais os limites dos artistas”, num palco em que “a vida e a arte se diluem”, desencadeando uma atmosfera de confusão.

O espetáculo tem o seu quê de metateatral, até porque oscila entre a performance e o teatro, duas linguagens diferentes, embora performativas. “A performance inspira-se na verdade e na procura. A body art trabalha muito essa ideia. E o teatro trabalha a ideia de verosimilhança e de fingimento. Há quem esteja muito mais do lado da performance neste grupo e há quem depois desta experiência queira voltar ao teatro. É interessante perceber o afeto de cada um pela sua disciplina”, detalha, numa apresentação à imprensa.

 

Diretor artístico do Teatro Oficina, Mickaël de Oliveira é encenador de "Ensaio Técnico" © Ivo Rainha

Diretor artístico do Teatro Oficina, Mickaël de Oliveira é encenador de "Ensaio Técnico" © Ivo Rainha

 

“Espetáculo totalmente ligado ao projeto do Teatro Oficina”

A criação de “Ensaio Técnico” foi colaborativa, sobretudo. Mickaël de Oliveira apareceu nos primeiros ensaios com “uma ideia e um plano de trabalho”, mas sem texto. Foi preciso concluir a primeira fase de ensaios para escrever o texto literário e o texto de encenação, sujeitos a modificações até bem perto do espetáculo. “Ainda estamos a acertar. É um processo muito em colaboração com toda a gente, a equipa artística, técnica, criativa e a de produção. O teatro é felizmente uma arte coletiva, e é preciso defendê-la. Escrevi muito a partir de improvisações e houve muita coisa que cresceu aqui”, conta.

Essa forma de trabalhar enquadra-se na prática do Teatro Oficina, companhia que foi convidado para dirigir até ao final de 2024. “O espetáculo está totalmente ligado ao projeto artístico do Teatro Oficina. É um projeto muito virado para a criação, para o apoio à criação crítica, para as residências artísticas acompanhadas”, refere, enaltecendo o quão “bonita e especial” é a black box do Espaço Oficina, na Avenida D. João IV. A obra foi idealizada para aquele lugar, aliás. “Para outros espaços, vamos ter de o adaptar”, constata.

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