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"É o cumprir de um sonho": Marco educa cães e vai competir num Mundial

Pedro C. Esteves
Desporto \ quarta-feira, agosto 11, 2021
© Direitos reservados
Vimaranense é o único representante português no Campeonato Mundial de Obediência canina, na Suíça. Do medo de cães a educá-los diariamente, a presença é recompensa de "muito trabalho".

A mão de Marco vai afagando o cocuruto de Mignollo e remexendo o pêlo escuro do border collie que, obediente e deleitado, recebe o gesto com agrado. É cumplicidade construída com tempo e mostra de respeito recíproco entre treinador e treinado. É também trabalho contínuo e sem término. “Um cão nunca está educado, porque tem sempre mais para aprender e evoluir”, refere Marco Silva. “É a beleza disto”.

Essa “beleza” acontece em São Cristóvão de Selho. Nos arrabaldes do parque da freguesia, para lá de um portão metálico, labora a Associação Vimaranense Super Cães. Ao leme, Marco Silva. Formou-a em 2010, mas já ia “treinando alguns cãezinhos” desde 2008. Treinar o quê? Agilidade, obediência canina e outras competências. Anos de trabalho culminam no “cumprir de um sonho”: o vimaranense vai participar no Campeonato do Mundo de Obediência e já para partiu para Berna, na Suíça, onde vai estar até dia 15 de agosto.

“Fui assistir a uma competição em 2015, ao Mundial, e quando cheguei lá disse que era aquilo que queria para mim. Passaram-se alguns anos e até hoje não consegui ir”, refere. E depois, contratempos: “No ano passado estava qualificado para o mundial, mas devido à covid-19 foi cancelado, este ano vou poder ir. São muitos anos a trabalhar para chegar aqui”, indica o educador canino com 45 anos. Será o único representante português na prova internacional.

O objetivo é claro: aprender “com quem sabe mesmo muito”. Partiu para a capital suíça no passado sábado e entra em competição já esta quinta-feira. A tarefa é complicada, mas “talvez para 2023 ou 2024” se consiga chegar a uma final. Para já, “é difícil”. “Estamos a falar em 100 cães, 50 em cada dia e só passam os 10 melhores à final. A nossa ideia é continuar a evoluir, aprender para poder chegar a competir com eles”.

Nós e eles

A jornada de Marco até ao Campeonato do Mundo começou há mais de uma década. Estar nos 100 melhores “já é um orgulho muito grande” – junta-se a isso “representar Portugal e a cidade”. O “amigo” de competição, um border collie chamado Nagarabi Grim treina há seis anos. Terá pela frente uma prova “muito difícil”. “O cão tem que cumprir uma série de requisitos, comandos à distância, correr x metros para entrar numa caixa, procurar um pau com um odor específico no meio de dez”.

Não há tempo para zangas. “Às vezes é o cão que está mal, outras vezes é o dono que está mal”, complementa. A relação fortalece-se na arena de treino e o trabalho “nunca está pronto”. “Às vezes engano-me eu nos comandos, às vezes enganam-se eles”. E, no final, está tudo bem. “É especial, dão-nos coisas que ninguém dá. Se me chateio com a minha esposa antes de sair de casa, à noite continua chateado, com o meu cão, passado cinco minutos está tudo bem; são especiais”, brinca.

Tudo começou com um boxer (e algum receio). “Quando era novinho tinha medo de cães, tinha mesmo muito medo. Gostava, mas tinha medo de estar perto deles”, recorda. Marco cresceu, recebeu um cão “e tudo começou aí”. “Fui para uma escola treiná-lo e esse cão trouxe-me mais vontade e vício de fazer mais coisas. A partir daí foi tirar formações e mais formações”.

Muitas formações e treinos depois, há ainda muito para aprimorar. E isso só se consegue de uma forma: “Sempre a treinar”. “O cão nunca está perfeito, eu nunca estou perfeito. Como é um trabalho de equipa, temos que treinar todos os dias”.

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