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“Vai ficar para sempre”:peregrinos e paróquias elogiam acolhimento para JMJ

Tiago Mendes Dias
Sociedade \ segunda-feira, julho 31, 2023
© Direitos reservados
Entre quem acolheu mais de 700 peregrinos no Arciprestado de Guimarães e Vizela, fala-se de “expetativas superadas”. Quem veio de França ou de Barbados menciona o acolhimento entre quarta e domingo.

Sol já alto na manhã de domingo e a camioneta irrompe pela rua que ladeia a igreja de São Cristóvão de Selho. O momento acelera as despedidas entre os 19 peregrinos de Saint-Cloud que ali permaneceram e a comunidade que os acolheu, desde voluntários às famílias de acolhimento.

Enquanto se davam os últimos abraços e se pegavam nos sacos rumo à camioneta que levaria aqueles jovens franceses até Braga – aproximava-se a concentração dos cerca de sete mil peregrinos que conheceram a arquidiocese desde quarta-feira -, a coordenadora do grupo mostra-se grata pelo tempo ali passado; permitiu-lhe respirar após um trabalho de preparação com “várias dificuldades”.

“Foram dias extraordinários. Ser assim acolhida foi especialmente oportuno. A logística da JMJ é complicada. Tenho 100 pessoas sob a minha responsabilidade. Ter alguns dias em que não estou ao leme e ser bem recebida é reconfortante”, disse Elodie Goenvec ao Jornal de Guimarães, mencionando também os jovens que viajam diretamente de França para Lisboa.

O contingente que esteve em São Cristóvão de Selho foi um entre os vários que se deslocaram de camioneta desde a Diocese de Nanterre até Portugal, numa viagem de cerca de 24 horas, incluindo paragens. Os cerca de 650 peregrinos oriundos das várias localidades da diocese, nos arredores de Paris, correspondem a quase 90% das pessoas que viveram em Guimarães e em Vizela os Dias nas Dioceses, iniciativa que antecipou a Jornada Mundial da Juventude em quase todo o território nacional: a exceção foram as dioceses de Lisboa, Santarém e Setúbal, destinadas a acolherem mais de um milhão de pessoas esperadas para o evento que se realiza entre 01 e 06 de agosto.

Desde que foram acolhidos, na quarta-feira, os peregrinos visitaram os principais locais e instituições das respetivas paróquias onde estavam alojados, conheceram o centro histórico de Guimarães, da Oliveira ao Castelo, deixaram marca na Penha – cada um gravou uma impressão da mão numa instalação com estacas de madeira – e realizaram uma atividade conjunta da respetiva zona pastoral – o arciprestado inclui Cidade de Guimarães, Lapinha, Vizela, Pevidém, Ronfe, Taipas e São Torcato.

A Basílica de São Torcato foi precisamente o palco do principal momento religioso da Diocese de Nanterre, na quinta-feira. Entre as 16h00 e as 24h00, os peregrinos organizaram dinâmicas de grupo no espaço exterior e momentos de oração no interior do templo, havendo também lugar a uma eucaristia presidida pelo bispo Matthieu Rougé. “A tarde em São Torcato foi magnífica. Foi a primeira vez que todos os peregrinos da Diocese de Nanterre estiveram juntos. Todos os dias tivemos momentos de oração em pequenos grupos, mas aquele momento foi diferente”, realça Elodie Goenvec.

Peregrina de Rueil-Malmaison, acolhida em Caldas das Taipas, Blanche de Kermeanguy classifica o momento vivido em São Torcato como “muito forte” e enaltece o acolhimento de que o seu grupo, de 22 peregrinos, foi alvo ao chegar a Portugal. “Fomos muito bem acolhidos. Estamos gratos pela simplicidade e pela gentileza de todos os portugueses. Estamos impressionados com estes dias”, frisa ao Jornal de Guimarães.

Blanche espera ainda que Lisboa seja também palco de interação entre jovens de várias culturas, para “partilhar a fé e a oração”, mas também para “crescerem em conjunto e conhecerem-se melhor”. Já Elodie Goenvec realça que os dias em São Cristóvão de Selho permitiram ao seu grupo “ganhar ritmo e estar mais preparado” para Lisboa, numa JMJ que vê como “oportunidade para sentir e estar com Jesus Cristo”.

 

Basílica de São Torcato recebeu atividade dos peregrinos de Nanterre © JF São Torcato

Basílica de São Torcato recebeu atividade dos peregrinos de Nanterre © JF São Torcato

 

Viver tradições locais. Conhecer a cultura de quem vem

Enquanto responsável pelo Comité Organizador Paroquial (COP) de Caldas das Taipas, Carlos Costa viveu os Dias nas Dioceses com os peregrinos de Rueil-Malmaison e fala de “expetativas superadas” ao fim de um ano a preparar o acolhimento. “Os jovens são fenomenais. Interagem muito bem connosco, com as nossas famílias de acolhimento, com os nossos voluntários, que são da idade deles, e têm participado nas atividades com muita garra e energia, sempre presentes”, realça ao Jornal de Guimarães.

Entre quarta-feira e domingo, os jovens oriundos de França e os da vila termal souberam conjugar “momentos de oração e de diversão”, seguindo os cinco pilares do programa dos Dias nas Dioceses, designados “acolhimento, descoberta, cultura, missão e envio”.

Em Ronfe, o testemunho de quem integra o COP, estruturas criadas nas paróquias para os dias de acolhimento, é semelhante. “Dos peregrinos às famílias, é algo que vai ficar para sempre. Vai ser uma marca muito positiva para eles. Nunca se vão esquecer. Temos muito a aprender com esta experiência”, frisa Sérgio Lemos.

Os 23 peregrinos de Boulogne-Billancourt recebidos naquela vila interagiram com as crianças e idosos do Centro Social Paroquial de Ronfe e participaram na Festa de São Tiago, a principal daquela comunidade, ajudando na elaboração do tapete. “Viram uma tradição que certamente não acontece lá, a dos tapetes e procissões”, descreve.

As tradições e atividades locais emergiram em vários momentos dos Dias nas Dioceses. Vários grupos visitaram fábricas. Na Zona Pastoral de Pevidém, organizou-se um arraial onde se deu a conhecer o Bordado de Guimarães, a elaboração de flores para as procissões, os ritmos do vira minhoto e jogos como o chincalhão.

 

Bordadeiras trabalham o Bordado de Guimarães com os peregrinos

Bordadeiras trabalham o Bordado de Guimarães com os peregrinos

 

Na Zona Pastoral da Cidade, a atividade equivalente decorreu no Campo de São Mamede, com o castelo como fundo, havendo espaço para música e apresentação de várias coreografias. Um deles pertenceu ao contingente de Barbados, ilha das Caraíbas de onde provieram 14 peregrinos, alojados na Paróquia de Nossa Senhora da Oliveira. “Apresentaram-nos um número tradicional deles na sexta-feira à noite, junto ao Castelo. Tivemos o privilégio de fazerem essa apresentação. Foram fantásticos”, realça Maria João Oliveira, do COP daquela paróquia no coração do burgo vimaranense.

Um dos peregrinos da Diocese de Bridgetown, capital do país com cerca de 280 mil habitantes, descreve essa noite de sexta-feira como “uma experiência maravilhosa”. “Mesmo sem sabermos falar as línguas uns dos outros, sentimos a energia do que estava a ser dito”, vinca Warren Brown, de 16 anos.

Pela primeira vez fora de Barbados, o peregrino enaltece o quão “bonita e acolhedora” foi Guimarães, com uma “atmosfera que o fez sentir-se em paz”, a tarde de domingo em Braga, pelos inúmeros peregrinos de diferentes países que conheceu – estavam lá cerca de sete mil para um dia que culminou com a eucaristia presidida pelo arcebispo José Cordeiro -, e a família de acolhimento. “Foi espantosa. Foi muito cuidadosa connosco. Tornou muito fácil apreciar o tempo que passamos por aqui”, enaltece.

Além de peregrinos de França e de Barbados, a cidade também acolheu peregrinos dos Estados Unidos e da Alemanha – esses por iniciativa própria, sem inscrição ao abrigo da Arquidiocese - tendo recebido ainda jovens italianos, espanhóis e angolanos, acolhidos nas paróquias mais próximas do Arciprestado de Famalicão.

Encarregue de acompanhar os 14 peregrinos de Barbados, entre eles o Bispo de Bridgetown – Neil Sebastian Scantlebury -, que foi convidado para pernoitar em Braga, mas decidiu ali permanecer -, Maria João Oliveira narra uma experiência diferente da maioria das restantes paróquias, a começar pela ida ao Aeroporto Francisco Sá Carneiro, para os receber por volta das 01h00 de quarta-feira.

Em quatro dias, a responsável acompanhou jovens para os quais “tudo era novo”, desde a paisagem urbana às várias caminhadas, e uma forma diferente de se viver o catolicismo, que, no seu entender, aponta caminhos de futuro. “Cada vez mais a igreja tem de ser jovem. Os jovens têm de participar mais, de trazer ideias frescas, para a igreja ser mais viva, mais alegre, mais unida. O contingente de Barbados transmitiu-nos isso. A forma de oração deles é completamente diferente. Os jovens foram excecionais”, reitera.

 

Os peregrinos de Barbados na Igreja de Nossa Senhora da Oliveira © Paróquia de Nossa Senhora de Oliveira

Os peregrinos de Barbados na Igreja de Nossa Senhora da Oliveira © Paróquia de Nossa Senhora de Oliveira

 

Nem todas as famílias de acolhimento inscritas puderam receber peregrinos

À frente do Comité Organizador Arciprestal (COA), responsável pela supervisão de todos os COP do Arciprestado de Guimarães e Vizela, Miguel Araújo diz que ainda está a “tentar absorver tantas emoções” depois de cinco dias em que “as coisas funcionaram quase em pleno”; as exceções, admite, foram a avaria num dos autocarros que fez chegar alguns dos peregrinos às paróquias e a impossibilidade de os 53 jovens dos Camarões inscritos participarem, já que não tiveram o visto a tempo de voarem para Portugal.

O responsável enaltece a forma como as comunidades locais se “esmeraram para o acolhimento” e a motivação dos peregrinos para participarem. “Todas as ações se realizaram com uma nota muito positiva, com os vários contingentes a não pouparem elogios à organização. Superou a expetativa em termos de realização”, realça Miguel Araújo.

Houve famílias que até se disponibilizaram para acolher peregrinos e não o puderam fazer; há um ano, a Diocese de Nanterre previa enviar cerca de 1.500 peregrinos para o arciprestado, mas o número diminuiu para 650 numa fase adiantada da preparação. “Trabalhámos para um número mais elevado, dado que estávamos com uma expetativa de que poderiam ser muitos mais peregrinos. Tínhamos 433 famílias de acolhimento inscritas, mas só foi possível alocar peregrinos em 274 famílias”, refere.

Miguel Araújo vê, porém, “algo de bom” nessa circunstância: o menor número facilitou, a seu ver, a proximidade entre paróquias e peregrinos. “Atendendo que o que se concretizou foi inferior à expectativa inicial em termos de número, isso tornou as coisas logisticamente mais fáceis”, vinca. “E o contacto entre paróquias e peregrinos tornou-se mais pessoal, o que acaba por ter uma riqueza maior”. Carlos Costa, do COP das Taipas, testemunha os laços firmados entre família de acolhimento e respetivos peregrinos: “As famílias de acolhimento já os tratavam como os “nossos meninos”. Estão preocupados quando chegam a casa, onde é que eles vão, quase como se fossem deles. Estão encantados com a experiência e voltariam a repeti-la”.

 

Blanche de Kermeanguy, de Rueil-Malmaison, e Carlos Costa, do COP de Caldas das Taipas

Blanche de Kermeanguy, de Rueil-Malmaison, e Carlos Costa, do COP de Caldas das Taipas

 

Testemunhos dos Dias nas Dioceses – Arciprestado Guimarães e Vizela

“Dos peregrinos às famílias, é algo que vai ficar para sempre. Vai ser uma marca muito positiva para eles. Nunca se vão esquecer. Nós, paróquia, também pudemos testemunhar a nossa fé. Temos muito a aprender com esta experiência”, Sérgio Lemos, COP Ronfe

“Foram dias extraordinários. Tivemos várias dificuldades no tempo de preparação para estes dias. Ser assim acolhida foi especialmente oportuno. Enquanto responsável pelo grupo, cheguei e respirei um pouco. Estes dias deram-me tempo para antecipar o que está por vir”, Elodie Goenvec, 25 anos, peregrina de Saint-Cloud em São Cristóvão de Selho

“O momento em São Torcato foi muito forte. Todos os jovens da diocese [de Nanterre] encontraram-se lá, num país que não conhecem. Foi muito bom fazer o contacto entre eles”, Blanche de Kermeanguy, 21 anos, peregrina de Rueil-Malmaison em Caldas das Taipas

“Cada vez mais a igreja tem de ser jovem. Os jovens têm de participar mais, de trazer ideias frescas, para a igreja ser mais viva, mais alegre, mais unida. O contingente de Barbados transmitiu-nos isso. A forma de oração deles é completamente diferente”, Maria João Oliveira, COP Nossa Senhora da Oliveira

“A cidade é muito bonita e acolhedora. As pessoas são muito amigáveis. Foi uma alegria estar aqui. Gostei da atmosfera do sítio, o quão em paz me senti nesta cidade”, Warren Brown, 16 anos, peregrino de Bridgetown (Barbados) em Nossa Senhora da Oliveira

“Atendendo a que o que se concretizou foi inferior à expectativa inicial em termos de número, isso tornou as coisas logisticamente mais fáceis. Tínhamos mais capacidade de acolhimento preparada do que a que foi necessária. E o contacto entre paróquias e peregrinos tornou-se mais pessoal, o que acaba por ter uma riqueza maior”, Miguel Araújo, Comité Organizador Arciprestal

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