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Dia dos Museus: a arte que cruza o Atlântico teve no CIAJG porta aberta

Tiago Mendes Dias
Cultura \ sexta-feira, maio 19, 2023
© Direitos reservados
As exposições de Artur Barrio e Eduardo Matos, dois artistas em que Brasil e Portugal coabitam, foram âncora para as visitas orientadas ao “Museu Aberto”, iniciativa que se prolongou por quinta-feira.

As alvas paredes do Centro Internacional das Artes José de Guimarães (CIAJG) revestem-se com imagens de deambulações várias de Artur Barrio ou com jogos de palavras gravados no pano, em alinhamentos díspares. Os fragmentos que compõem “Interminável”, a exposição patente desde 25 de março naquele lugar, testemunham mais de 50 anos de uma carreira que recusa as linguagens impostas pelo sistema da arte, apoiando-se em materiais “conotados com um materialismo abjeto ou efémero, assumem uma dimensão inconsciente e física, simultaneamente poética e política”; a nota oficial do CIAJG refere-se assim a uma exposição que, nesta quinta-feira, esteve de portas abertas para alunos das escolas ou população sénior nas visitas orientadas da manhã.

A iniciativa enquadrou-se no “Museu Aberto”, o programa daquele equipamento para o Dia Internacional dos Museus, 18 de maio. "Ao longo do dia, tivemos várias ações a partir da relação com as escolas, na Educação e Mediação Cultural. Tivemos públicos de faixas etárias muito distintas, desde seniores até ao público mais escolar”, descreve Marta Mestre, curadora-geral do CIAJG e diretora artística da Oficina para as artes visuais.

No rescaldo de um dia que incluiu ainda a oficina de artes plásticas "Sorte ao Desenho, Desenho à Sorte", de Luísa Abreu, a oficina de correspondência “CartaMuseu”, com Patrícia Geraldes, a masterclass “O nascimento da arte”, com António Jorge Gonçalves e Filipe Raposo, e a inauguração de mais uma edição de “Jornadas Indisciplinadas”, mostra de propostas artísticas dos alunos da Licenciatura em Artes Visuais da UMinho, no CIAJG, no CAAA e na Garagem Avenida, Marta Mestre enalteceu o esforço do centro de arte contemporânea, parte de um “ecossistema” artístico em consolidação, para apresentar “uma programação de referência”.

"O trabalho tem a ver com criarmos uma programação de excelência. Através dela, diversificamos um conjunto de ações para a comunidade, que podem ter a ver com a exposição, que podem ter a ver com os programas públicos, que podem ter a ver com as ações de educação e mediação”, esclarece.

Curadora de “Interminável”, a par do brasileiro Luiz Camillo Osorio, Marta Mestre refere-se a Artur Barrio, artista nascido no Porto, em 1945, que se mudou para Angola e depois para o Rio de Janeiro, como “um dos maiores nomes da arte contemporânea”, com um percurso que inclui apresentações na Bienal de Veneza, na Documenta de Kassel, na Bienal de São Paulo.

“Fez uma grande exposição em Serralves e há muito tempo que não era revisto em Portugal. Esta exposição é uma espécie de retrospetiva de bolso que coloca todo o seu trabalho em perspetiva, que traz muitos momentos não só da década de 70, um momento muito marcante das suas ações, mas também instalações como esta”, vinca.

A incursão pela obra de Artur Barrio na sequência de “Heteróclitos: 1128 objetos”, exposição que reconfigurou a coleção permanente do CIAJG no piso 1, é também um abraço a “geografias outras”, algo que Marta Mestre crê implícito na missão do CIAJG. “As geografias que o CIAJG convoca são geografias outras, são espaços desterritorializados. Tem a ver com uma projeção do nosso imaginário para o Atlântico: África, Brasil, toda esta circunstância que nos coloca numa ponta da Europa e faz pivô destas geografias", descreve.

 

Estrutura alusiva às fábricas informais do Vale do Ave em "Fabriqueta", no CIAJG © Miguel Faria/JdG

Estrutura alusiva às fábricas informais do Vale do Ave em "Fabriqueta", no CIAJG © Miguel Faria/JdG

 

Do Rio, para olhar para dentro… através de uma fabriqueta

O artista que dá vida à outra exposição patente no CIAJG partilha os itinerários da vida de Artur Barrio: Eduardo Matos nasceu no Porto, fixou-se no Rio de Janeiro e “Fabriqueta” é tanto reflexo, como reflexão do e sobre o território em que se encontra. Os blocos feitos parede, com um discreto telhado a lembrar o amianto ainda visível aqui e ali, evocam as “estruturas informais que muito reconhecerão, das fabriquetas da região, que pontuam esta paisagem híbrida, esta paisagem que o geógrafo Álvaro Domingues descreve como transgénica, esta mistura do mundo rural e do mundo urbano”, realça Marta Mestre.

Igualmente patente desde 25 de março até 03 de setembro, a mostra é âncora para um programa público que abarcou uma exposição no CAAA – “Pitar na Cangosteira”, de Ludgero Almeida, Pedro Bastos e Max Fernandes – e uma caminhada por esses espaços habitados pelo trabalho, ao longo das cangosteiras, “percursos mais informais que a cidade tem", a 13 de maio. No dia 27, a exposição será habitada por um punhado de vozes e coros.

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