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De Couros até ao jardim vertical para o edifício da GNR nos Laranjais

Tiago Mendes Dias
Sociedade \ quarta-feira, maio 19, 2021
© Direitos reservados
Seara de Sá sugeriu a colocação de um jardim vertical naquele edifício que é dissonante face ao resto do centro histórico, enquanto se discutia o novo plano de gestão para esse território.

A discussão começou pelo plano de gestão do centro histórico, elaborado no âmbito da candidatura de Couros a Património Mundial da UNESCO, mas terminou no interior da antiga muralha, mais propriamente no largo dos Laranjais. O edifício que foi quartel da GNR de Guimarães e que é hoje sede da Polícia Municipal destoa da silhueta medieval à sua volta. Os intervenientes no debate “O centro histórico de Guimarães e a zona de Couros” defenderam, por isso, que o imóvel necessita de uma intervenção.

O debate realizou-se na Associação de Socorros Mútuos Artística Vimaranense (ASMAV), ao final da tarde de terça-feira, e o seu antigo presidente, Francisco Teixeira, defendeu até a demolição do edifício, um dos “pontos negros” do centro histórico, e o prolongamento da praça, mas o vereador municipal para o urbanismo, Fernando Seara de Sá, foi mais comedido nas alterações a fazer. A seu ver, a solução mais adequada é a de um jardim vertical, que integre melhor o edifício com o espaço envolvente.

Para Seara de Sá, outro dos problemas do centro histórico é o edifício que acolheu os CTT, tendo forçado à época a destruição de um conjunto “bem mais interessante”.

 

“Não faz sentido” Câmara promover associação de moradores

O plano de gestão para o horizonte 2021-2026 começou a ser discutido publicamente a 06 de maio, na Sociedade Martins Sarmento (SMS), e uma das sugestões então proferidas por Maria José Meireles, investigadora que faz parte do conselho científico da SMS, foi a criação de uma associação de moradores para o território classificado como Património Mundial da Humanidade. Seara de Sá considera que a associação pode ser criada, mas nunca por iniciativa da autarquia. “Não faz sentido nós, Câmara, promovermos uma associação de moradores. Isso deve corresponder a uma dinâmica própria da cidade. Não teremos papel nenhum nisso”, defendeu.

Diante de uma sala com cerca de 30 pessoas, o vereador acrescentou que o documento com 252 páginas pretende clarificar a população sobre o que se “vai ali fazer nos próximos 20 anos”, sendo uma “base de trabalho que pode ser melhorada e acrescentada” com “comentários críticos positivos e negativos”, antes de se estabelecer o documento final.

Ao lado, Francisco Teixeira considerou igualmente “absurdo” que uma associação de moradores nascesse por “empurrãozinho político” e não pela “vontade própria dos moradores”, tendo mostrado algum receio para com o aparecimento de uma entidade de “cariz territorialista” num “bem que não é só um sinal de pertença para quem ali vive, mas vocacionado para o mundo inteiro”. “Para além do interesse turístico, há a vantagem do ponto de vista simbólico, estético e político de pegarmos num pedaço da cidade e de fazermos dele um símbolo para o mundo”.

Preocupado com fenómenos de “bairrismo e localismo”, Francisco Teixeira realçou que o centro histórico de Guimarães deve ser um espaço de “universalidade, de paz e de cultura”.

 

 

Políticas para habitação mais acessível

Apesar desta visão de centro histórico para o mundo inteiro, Francisco Teixeira alerta para o possível excesso de turismo, defendendo um “código deontológico para os turistas” que implique o respeito por quem ali vive, e também para o excesso de protagonismo dos comerciantes face aos habitantes, enquanto sinal de que aquele território é um palco para atividades económicas e não um espaço onde se vive. “Turistificação, baixa densidade populacional, falta de habitação, o alto preço da habitação e a musealização são alguns dos problemas que temos de enfrentar”, sugeriu o antigo vereador para a Cultura da Câmara Municipal.

Francisco Teixeira defende por isso que é necessário “ter gente a viver no centro histórico”, o que “implica políticas de habitação direta, de apoio à requalificação e de casas a custo controlado”. Esse seria também um passo para a “democratização da gestão” do centro histórico, com a comunidade que ali vive a ter “uma palavra” no seu funcionamento. “Isso só se consegue a gerir através de olhares múltiplos e cruzados. Se os atores sociais estiverem cristalizados e logo definidos, corremos o risco de ter as soluções de sempre”, vincou.

 

É preciso pedonalizar a cidade

O outro interveniente no debate, o arquiteto Paulo Castelo Branco, realçou, por seu turno, que a possível extensão da área classificada como Património Mundial a Couros dá uma terceira dimensão à requalificação da malha urbana mais antiga de Guimarães.

A primeira, relacionada com a requalificação do castelo e do Paço dos Duques, durante o Estado Novo, teve a ver com a “espetacularidade” e com “um universo simbólico sagrado”, que “tinha muito a ver com o antigo regime”, disse. A segunda, iniciada nos anos 80, com o Gabinete Técnico Local, teve um “caráter antropológico” por ser o antigo espaço muralhado onde as pessoas distintas, quase se tornando numa entidade alheia à denominada Colina Sagrada.

A terceira, realçou, valoriza o trabalho, ideia que acaba por encerrar em si o “sagrado” e o “antropológico”. “Podemos ir à Colina Sagrada buscar a aurora do país, mas também a Couros buscar luminosidade. Era onde viviam os pobres dos pobres. Hoje, já não tem a pobreza que tinha. Quando cheguei a Guimarães, era um território abandonado mais do que degradado”, recorda o arquiteto natural do Porto.

Ciente de que os equipamentos agora a nascer são importantes para valorizar o espaço, desde que se “estanquem os excessos”, Paulo Castelo Branco indicou vê na malha urbana de Guimarães um “território ainda frágil”, com alguns obstáculos a que o centro histórico, do Castelo até Couros possa ser lido como espaço unitário. “A rua Serpa Pinto, onde tem a segurança social e o Jardim do Carmo, a Alameda e o Toural criam alguns obstáculos a que este espaço possa ser lido como unitário”, disse.

Para se criar mais coesão entre os espaços, o arquiteto defende a pedonalização da cidade, sendo contra a remoção de carros de “forma radical”, mas também de “forma tímida”.

 

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