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Dança: Segunda 2 leva ao palco do CCVF um início de século XXI “difícil”

Tiago Mendes Dias
Cultura \ sexta-feira, outubro 15, 2021
© Direitos reservados
A nova criação da Companhia Paulo Ribeiro inspira-se num tempo em que cada um parece viver “numa espécie de redoma”, a “tentar sobreviver à sua maneira”. Tem início às 19h30, no Vila Flor.

No universo criativo de Paulo Ribeiro, os dias de semana podem encerrar em si os estados de espírito de uma qualquer comunidade, do país, do mundo. Há 26 anos, a recém-criada Companhia Paulo Ribeiro apresentava-se com Sábado 2, uma coreografia que parte da repressão sobre a sensualidade dos corpos no Estado Novo para imaginar um futuro “mais risonho” – afinal, vivia-se um tempo em que Portugal se “abria e ligava mais ao resto do mundo”, com uma “nova rede de cineteatros e de outros equipamentos a ganhar corpo”, recorda o coreógrafo e bailarino ao Jornal de Guimarães.

Cumpridas duas décadas do século XXI, o fim de semana acabou e a sociedade confronta-se com Segunda 2, uma obra para um tempo em que “tudo parece mais circunscrito”, à “volta de si próprio”, numa “espécie de redoma”, com cada um a “tentar sobreviver à sua maneira”. Essa é a mais recente proposta da companhia liderada pelo ex-diretor da Companhia Nacional de Bailado, em estreia nesta sexta-feira, às 19h30, no Centro Cultural Vila Flor (CCVF).

“O mundo tem sempre as suas oscilações e dificuldades, mas havia lugar para mais otimismo há 26 anos. Este século XXI tem sido difícil, se bem que o princípio do século XX também foi muito difícil. Já passaram 20 anos, e esta pandemia tem sido uma coisa bastante difícil de ultrapassar”, adianta, como que a entreabrir a porta para o estado de espírito evocado em palco.

A ideia de “falha” é uma das inspirações para as performances dos seis intérpretes - Ana Moreno, Catarina Keil, Margarida Belo Costa, Pedro Matias, Sara Garcia e Valter Fernandes -, servindo mais como “forma leve de brincar” com este tempo do que a mais comum “falha dramática como processo de aprendizagem”, refere o autor. “Temos aqui uma peça bem interpretada, dinâmica, com humor, ironia. Mas pode ser mais do que isso. Aquilo que é dito pode-se alterar com o evoluir da peça, à medida que vai sendo apresentada”, sugere o autor. Há 26 anos, Sábado 2 levava ao palco “o romantismo e a sensualidade”.

 

Um outro tempo, uma outra geração

Assim se percebe que as semelhanças entre a peça inaugural da companhia e a peça em estreia no CCVF se limitam à invocação dos dias da semana para se perspetivar o mundo. As diferenças aprofundam-se na “linguagem artística” dos corpos, no desenho de luz de Nuno Meira, com quem trabalha há 21 anos, e na música; em 1995, Sábado 2 teve música original de Nuno Rebelo. Já Segunda 2 alimenta-se da reinterpretação de Astor Piazzolla, o criador do nuevo tango, nascido há 100 anos, em Mar del Plata (Argentina).

“Em termos musicais, é bastante denso e interessante. Esta música, com a sua conotação sul-americana, prolonga horizontes e a dimensão do sentimento, das emoções e da dinâmica dos corpos”, descreve.

Até as geração dos bailarinos mudou, assumindo-se como uma espécie de reflexo difuso da passagem do tempo entre Sábado 2 e Segunda 2: há 26 anos, o elenco era composto por Paulo Ribeiro, Leonor Keil, Peter Michael Dietz, Duarte Barrilaro Ruas, Paula Moreno e Joana Novais. Agora, quem dança é a filha do coreógrafo lisboeta. “Há 26 anos, eu dancei, e a minha ex-mulher também, a Leonor Keil. Nesta, dança a minha filha, a Catarina Keil”, assume o coreógrafo, um dos que esteve na origem do movimento artístico Nova Dança Portuguesa.

Segunda 2 é uma coprodução d’A Oficina, do Centro Cultural de Belém, do Teatro Nacional São João, do Teatro Viriato e do Cine-Teatro Louletano.

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