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Berço do Clube de Rope Skipping das Taipas, a escola também é futuro

Tiago Mendes Dias
Desporto \ quinta-feira, julho 27, 2023
© Direitos reservados
A Escola EB 2 e 3 das Taipas acolheu os primeiros saltos de um grupo que se estreou em competição em 2009. Hoje os Molinhas continuam a saltar à corda em busca de cada vez mais atletas.

Martim Ribeiro ensaia um simples salto à corda e depois tenta um mortal, perante olhares dos colegas e dos treinadores. “Gostei sempre de fazer atividade física. Aprendi muita coisa com os treinadores”, afirma prontamente ao Jornal de Guimarães, num resumo dos dois anos a praticar rope skipping. Aos 10 anos, o saltador é campeão nacional da prova de overall no escalão de benjamins, um entre dezenas de atletas com títulos pelo Molinhas – Clube de Rope Skipping das Taipas. 

Os primeiros datam de 2009, quando o grupo que então treinava na EB 2 e 3 das Taipas arrecadou o primeiro lugar em corda individual e em corda dupla (double dutch), na primeira edição da Taça Nacional de Rope Skipping, em Coimbra. “Isto surgiu de um projeto do professor Nuno Dias. A situação foi ficando um pouco mais séria quando os alunos começaram a aderir e a querer mais. Em Coimbra, os alunos das Taipas destacaram-se e houve a decisão de se formalizar a modalidade”, recorda a presidente do clube, Sandra Freitas.

Passados 14 anos, esse núcleo de saltadores ostenta centenas de títulos regionais, nacionais e internacionais, alguns deles nos cinco campeonatos do mundo em que participou – está prestes a viver o sexto, em Colorado Springs (Estados Unidos). Pelo meio, o grupo constituiu-se como o primeiro clube exclusivamente dedicado rope skipping em Portugal. Fê-lo em 12 de fevereiro de 2015, depois de um período a trabalhar com o CART. “Havia a necessidade de alocar recursos à modalidade. O clube surgiu para concentrar os esforços e os patrocínios angariados em prol do rope skipping”, explica a dirigente.

À medida que afinava a organização, o clube crescia em número de atletas. Tinha entre 40 e 50 atletas em 2015 e, daí, cresceu até aos 70 a 75. Essa trajetória desabou com a pandemia de covid-19. Apesar das desistências, já se sente o impulso para recuperar, assume Sandra Freitas. Segundo clube com mais praticantes no país, atrás do Lisbon Skippers, o clube voltou ao patamar dos 40 a 50 saltadores, mas quer mais. “O primeiro objetivo é ampliar o número de atletas. O segundo é os resultados, que vêm com o trabalho”, reitera.

 

Martim Ribeiro é um dos mais jovens entre os saltadores dos Molinhas

Martim Ribeiro é um dos mais jovens entre os saltadores dos Molinhas

 

“Saltar para brincar” antes de saltar para competir

O Clube de Rope Skipping das Taipas organiza-se consoante os atributos físicos trabalhados pelos atletas. Ângelo Santos é o responsável pela preparação física, pela velocidade, pela potência e pela resistência. Já o freestyle – vertente do rope skipping que envolve saltos com coreografia – está sob a alçada de Gabriel Ferreira, Catarina Guimarães e Paulo Lima, alguns dos saltadores mais experientes do Molinhas. Ligado ao Molinhas há 14 anos, Paulo vê uma clara evolução de um treino de “tentativa e erro” para “treinos específicos com bases que resultam”. “Quando comecei, era o meu próprio treinador. Não tínhamos qualquer tipo de base. Aprendíamos a ir ao YouTube ver o que os outros países faziam”, recorda o treinador e atleta, de 24 anos.

A escola, todavia, mantém-se como palco privilegiado para a divulgação da modalidade. A par da colega de equipa Catarina Guimarães, Paulo está a apresentar nas escolas o Jump4Fun, um projeto da Associação de Portuguesa de Rope Skipping (APRS) onde se “salta a brincar” com alunos e professores. “Se se levar o rope skipping às escolas na sua forma competitiva, ninguém vai querer, porque é algo muito difícil de fazer”, realça o atleta especialista em velocidade. Graças ao projeto, o rope skipping chegou à Madeira, ao distrito de Leiria, a Barcelos ou a Lousada, abrindo-se uma janela para saltadores de competição.

Esse interesse, diz o responsável, estende-se a várias Câmaras Municipais, preocupadas com as dificuldades motoras apresentadas nas provas de aferição do 2.º ano de escolaridade. “O facto de uma criança não conseguir dar cinco saltos seguidos é preocupante. Os municípios começam a procurar a modalidade como forma de combate à obesidade”, explica.

Os laços com as escolas e o poder local parecem estreitar-se, mas a modalidade precisa de um acesso ainda mais vincado aos projetos do Desporto Escolar para se afirmar, defende Sandra Freitas. A transformação da APRS em federação desportiva seria uma ajuda nesse sentido, mas também no apoio aos atletas de alta competição, sobretudo no momento de entrar para a universidade. “É muito difícil conciliar a preparação para as competições internacionais com os exames nacionais. Têm de fazer escolhas e isso condiciona o futuro deles. Com o estatuto de alta competição, poderiam fazer os exames em época especial e já não estariam condicionados", salienta.

 

O CRST é liderado por Sandra Freitas e Ângelo Santos, professores de educação física

O CRST é liderado por Sandra Freitas e Ângelo Santos, professores de educação física

 

“Vamos sempre depender das escolas”

Na Escola Secundária de Caldas das Taipas, um contingente do Molinhas ensaia alguns movimentos. Especialmente apta na velocidade, Francisca Pereira iniciou-se no rope skipping através da escola: soube que Leonor Araújo, colega na EB1 de Ponte, praticava e decidiu experimentar. Aos 15 anos, competem ambas no mesmo escalão, embora a vocação de Leonor seja o freestyle. O facto de a mãe trabalhar numa das escolas de Caldas das Taipas conduziu-a àquele desporto. Experimentou, gostou e diz “sentir mais facilidade em qualquer atividade física”. "Ajuda-nos praticamente em tudo”, realça.

Criado na escola, o clube vai alcançar melhores resultados quanto mais estreita for a colaboração com os estabelecimentos de ensino, defende Sandra Freitas. "Vamos sempre depender das escolas, porque a dimensão do nosso clube não nos permite instalações próprias”, avisa, enaltecendo as relações até agora firmadas. Alheios à conversa, Margarida Santos, de 11 anos, e João Santos, de oito, experimentam a corda e falam da influência dos pais; afinal a mãe de ambos é a presidente do clube. E ao lado de João, Rafael Gama, também de oito, diz estar ali para fazer ginástica. Foi o amigo Martim Ribeiro que lhe disse para ir.

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