Controvérsia nas primeiras propostas levou à “carta fechada”, diz sindicato
A assembleia de credores aprovou nesta sexta-feira a venda da Coelima, com votos favoráveis de 96,061% dos presentes, mas os moldes em que a empresa têxtil vai continuar a laborar, caso essa venda se confirme, estão ainda por definir. Esse foi o único ponto a ser votado, com os restantes a ficarem adiados para 25 de junho, data em que a reunião vai continuar.
Com essa mudança de data, o Administrador da Insolvência, Pedro Pidwell, estabeleceu um novo prazo para a reformulação e apresentação de novas propostas – as 18h00 de segunda-feira -, antes de enviar a informação para a comissão de credores, às 12h00 de terça-feira, e de a assembleia prosseguir.
Até agora, foram conhecidas três propostas; uma é do consórcio RTL e José Fontão, que prevê o financiamento imediato de 200 mil euros e um pagamento de 1,75 milhões em 120 prestações mensais para adquirir todo o ativo; outra é do consórcio Felpinter e Mundotêxtil, com 2,51 milhões no imediato para a aquisição de todo o ativo e 220 mil euros para a assunção de encargos operacionais como salários; a terceira é da Mabera, com 2,6 milhões para garantir a transmissão do ativo e 250 mil euros para necessidades imediatas.
Com a nova data da assembleia, poderá haver nova ronda de propostas, que, desta feita, terá uma particularidade diferente: na primeira, as propostas tornaram-se públicas à medida que foram sendo apresentadas. Na que vai decorrer até segunda-feira, as ofertas terão de ser apresentadas em carta fechada, podendo apenas ser abertas depois das 18h00. A Mabera, têxtil sediada em Mogege (Vila Nova de Famalicão), mostrou interesse nessa solução, disse o presidente do Sindicato Têxtil e de Trás-os-Montes, à saída do Palácio da Justiça de Guimarães.
“Ficou concluído, depois de muita discussão e controvérsia, que estará aberto um novo prazo para a apresentação de propostas, em carta fechada, porque o representante da Mabera quer em carta fechada, para manter a transparência. Quer que sejam abertas na presença dos proponentes e dos membros da comissão de credores que desejem estar presentes. Irei lá estar, porque me interessa também ver”, realçou Francisco Vieira, aos jornalistas.
O dirigente sindical esclareceu ainda que o facto de o Administrador da Insolvência, Pedro Pidwell, ter fixado um prazo para a reformulação de propostas até 16 de junho, com vista à decisão marcada para esta sexta-feira, dificultou o acesso à informação pela comissão de credores, pelo que não havia condições para uma decisão final. “As propostas chegaram aos membros da comissão de credores ao final da tarde de quinta-feira e só esta sexta-feira os credores tiveram conhecimento. Mesmo os representantes dos bancos não estavam de acordo que se votasse hoje qualquer proposta”, acrescentou.
As propostas em discussão nesta sexta-feira eram as do consórcio RTL e José Fontão e as do consórcio Felpinter/Mundotêxtil, com a Mabera a ficar de fora, por propor inicialmente um prazo de 10 anos para o pagamento de 2,6 milhões aos credores. A empresa, no entanto, já está disponível para disponibilizar esse valor no imediato, além de assumir os salários de junho e as dívidas à Segurança Social e à Autoridade Tributária.
Ainda no rescaldo da assembleia, Francisco Vieira congratulou-se com a “presença de quase 100% dos credores” e com a clara votação favorável à venda da Coelima, que, a seu ver, mostra o “interesse” na Coelima. A seu ver, só um claro interesse na manutenção do funcionamento da empresa explica o desagrado do representante do consórcio Mundotêxtil/Felpinter em não ter conseguido fechar a compra nesta sexta-feira. “Não saiu nada satisfeito desta reunião, porque queria levar a chave na mão. O consórcio da Felpinter e da Mundotêxtil diz-se preparado, porque esta operação vai implicar já salários de julho, de agosto e subsídios de férias. A proposta da Felpinter vai ao detalhe: quer tudo”, vincou, a propósito do consórcio que apresentou a proposta “mais favorável” à Coelima, segundo Pedro Pidwell.
O Administrador da Insolvência também falou à imprensa à saída do tribunal, tendo referido que partilha das “preocupações” dos trabalhadores e que espera ver a situação da Coelima resolvida na próxima semana.
“O processo foi todo debatido nesta assembleia de credores. A própria assembleia deliberou retomar a consulta dos potenciais interessados e proponentes, para recolha de novas propostas até durante a semana que vem. No próximo dia 25, retoma-se a assembleia para deliberar a aprovação da escolha da proposta. Ainda estamos a tempo”, disse, após ter escrito que teria de encerrar a empresa, caso não houvesse um ato de compra e venda até 30 de junho.
O caso da Vipetrade
Na assembleia de credores, deliberou-se ainda o alargamento da comissão de credores de cinco para sete membros: o Banco Comercial Português e a Vipetrade. Essa última empresa firmou um contrato-promessa para a compra de um imóvel da Coelima, a rondar o milhão de euros, a 30 de dezembro de 2020, e votou compra a venda da empresa.
Francisco Vieira sugeriu que, na fase em que o contrato-promessa foi celebrado, o sinal de 130 mil euros poderá ter servido para “ajudar a pagar o subsídio de Natal” dos trabalhadores.
Já o advogado do sindicato, José Luís Oliveira, realçou que a venda do imóvel não favorece os 253 funcionários da Coelima, apesar de entender a posição da Vipetrade. Há duas razões com que sustenta essa posição: o facto de o dinheiro da compra reverter para a Caixa Geral de Depósitos, que “tem hipoteca sobre esse imóvel”, e não para a massa insolvente ou os trabalhadores, e a desvalorização do património da têxtil.
“Os trabalhadores são contra vender o imóvel. Isso faria com que o valor da Coelima diminuísse. Naturalmente os interessados não iriam oferecer o que ofereceram nesta semana. Na próxima semana, se descontássemos aqueles dois imóveis, as propostas baixariam, além de se diminuir o património da Coelima, que é uma garantia dos trabalhadores”, disse.
Voz aos trabalhadores
Francisco Vieira confirmou ainda que os trabalhadores vão regressar aos plenários na próxima querta-feira, eventualmente com a presença de Pedro Pidwell. O intuito é que cada um deles tenha voz no voto que lhes cabe na comissão de credores – vale cerca de 12% do total. “Os trabalhadores decidam o voto do seu mandatário. Cada um vai decidir como se quer que se vote”, adiantou.