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Envolta na leveza do humor, voz límpida de Arooj Aftab foi candeia no CCVF

Tiago Mendes Dias
Cultura \ quinta-feira, julho 06, 2023
© Direitos reservados
Aliada ao virtuosismo minimalista de Gyan Shankar Riley à guitarra, a cantora adocicou uma performance vocal quase imaculada das sensações de perda e separação com tiradas que soltaram gargalhadas.

Atirar uma rosa pode ter muito que se lhe diga, reconhece Arooj Aftab, sensivelmente a meio do concerto. Enquanto se olha para a plateia, é preciso fixar a pessoa a quem se quer atirar, fazer pontaria, lançar a flor e esperar que a pessoa esteja atenta para a agarrar. No Centro Cultural Vila Flor (CCVF), o espetador visado parece ter sido apanhado de surpresa com uma flor no seu regaço. A artista de Brooklyn, Nova Iorque, mostrou-se surpreendida por nem sequer ver uma reação e concluiu assim: “É melhor eu ter cuidado, não vá lesionar algum dos espetadores. Isso não está previsto no contrato para o concerto”, soltou, num lampejo que iluminou, à gargalhada, um Grande Auditório Francisca Abreu às escuras para o espetáculo de encerramento da temporada de programação 2022/23.

A cada pitada de humor entre as canções, a plateia relaxava. Afinal, a música de Arooj Aftab, evocativa dos sentimentos de perda e de falta com influências da cultura Urdu e do ghazal – estilo musical com raízes na Ásia Meridional -, convida o espetador a sentar-se e a contemplar os intérpretes. Findo o espetáculo de pouco mais de uma hora, a cantora paquistanesa confessa que entrelaçar a música, algo pesada, e a sua personalidade é um dos traços dos concertos que dá. “É simplesmente a minha personalidade. Por norma, sou engraçada e parva. Por vezes, noutros lugares da Europa, não percebem o que estou a dizer. A minha música é algo pesada, mas tenho um outro lado. E quero que o público se ligue a esses dois lados”, diz ao Jornal de Guimarães.

 

 

“É sempre bonito vir a Portugal”

Além das gargalhadas, também as palmas se soltaram em uníssono quando soavam as últimas notas de cada canção. O repertório era quase todo do celebrado Vulture Prince (2021), álbum imerso em dor, devido à morte do irmão, Maher, enquanto o compunha. Cada nota entoada por Arooj projetava-se como busca por algo maior, transcendente até, sempre amparada pelas cores e texturas da guitarra de Gyan Shankar Riley, variadas, apesar de minimalistas.

Com uma vida que se dividiu até agora entre Lahore, no Paquistão, Riade, na Arábia Saudita, e Nova Iorque, a artista percorreu todo o álbum até Mohabbat, a canção que lhe valeu o prémio de Melhor Performance de Música Global, na edição de 2022 dos Grammy. Os mais de 450 espetadores no CCVF brindaram-na com uma salva de palmas em pé; Arooj dissera, afinal, que era a última canção. Mas havia afinal uma outra até a uma despedida que se prolongou no foyer. Sentada numa mesa, a cantora brindou os fãs com autógrafos e fotografias, num país que disse ser o seu preferido na Europa.

“É sempre bonito vir a Portugal. Sinto sempre isso quando cá venho, nem que seja por um só dia. É o meu país favorito na Europa”, disse ao Jornal de Guimarães, repetindo o que já dissera no concerto. “Deve ser o único país na Europa onde não veem o meu passaporte e me olham fixamente a seguir, por ser originária do Paquistão. Toda a gente é tão relaxada”, vincou.

E a relação com os fãs é algo que cultiva sempre que pode. “Não o faço em todos os concertos, mas se eu gostar de um determinado lugar, faço-o. Noutras vezes estou demasiado cansada, mas adoro fazê-lo”, descreve, antes de partir para Trencin, na Eslováquia, onde dá o próximo concerto da digressão europeia em curso.

 

Artista parquistanesa radicada em Nova Iorque à conversa com os espetadores no foyer do CCVF

Artista parquistanesa radicada em Nova Iorque à conversa com os espetadores no foyer do CCVF

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