Ao 20.º livro, "um grito de libertação": a Poetisa de Arosa tem nova obra
Maria Amélia Fernandes tem novo livro. Mais de 35 anos depois da primeira obra, a Poetisa de Arosa apresentou esta sexta-feira o seu 20.º livro. "Esvoaçam sentimentos dispersos e fluem secretos desejos" é um "grito de libertação" que discorre acerca de um par de anos "ruins": não bastava a pandemia, também a saúde foi obstáculo para a escritora natural da freguesia mais a norte do concelho.
"Tenho amigas que insistiam, que acompanharam esta minha fase, que me diziam para não ir abaixo. É um livro em que o conteúdo é diferente do que tenho vindo a publicar. Não deixa de ser um livro que canta o amor. Como eu digo, é um livro que é um grito de libertação", explica ao Jornal de Guimarães. É por isso que as páginas de ""Esvoaçam sentimentos dispersos e fluem secretos desejos" "abarcam muita coisa". A Poetisa de Arosa fala numa "instabilidade" que a habita, mesclada com o "desejo de libertação".
A capa do livro, cheio de cor e com formas abstratas, é da autoria de um "pintor amigo" de Póvoa de Lanhoso -- a poetisa reside em Taíde, freguesia poveira nos arrabaldes do concelho de Guimarães -- Domingos Silva.
Ainda há muita coisa guardada na "gaveta". A carreira prolífica da agraciada com a Medalha de Mérito Cultural vimaranense, em prata, dividiu-se entre poesia e literatura infantil. E os planos passam por resgatar do papel guardado material para publicar uma coletânea para os mais novos.
A história da autora foi gizada com muita luta e abnegação: palavras-chave no percurso de Maria Amélia, “batizada” pela imprensa como a “Poetisa de Arosa”. Começou em 1985, quando jornalistas acorrem à pequena freguesia de Arosa no extremo nordeste do concelho, uma espécie de enclave vimaranense que intervala os concelhos da Póvoa de Lanhoso e Fafe. Chovem pedidos de entrevistas. “Quando lancei o Onda das Palavras, as pessoas começaram a ficar mais curiosas. Talvez fosse curiosidade para saber o que é que a fulana lá da aldeia que fica muito distante escrevia”, recorda.
Passaram mais de 35 anos desde aqueles primeiros 1000 exemplares conseguidos a partir de conhecimentos travados com professores através de familiares. Os livros chegaram ainda sem estudos para além da 4.ª classe e a conquista do Prémio Martins Sarmento. O percurso escolar começou tarde e culminou com a licenciatura. Um momento “de felicidade imensa”: “Quando era muito nova percebi que se os meus pais fossem de uma família de poder, tinha ido muito mais longe, chorei com os meus pais quando não pude continuar na escola. Eu amava os livros”, adiantava ao Jornal de Guimarães em dezembro.