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António Paraíso, natural de Guimarães, a marcar o luxo a nível mundial

Alfredo Oliveira
Economia \ sábado, dezembro 21, 2024
© Direitos reservados
António Paraíso passou pelo Liceu antes de rumar ao Porto. Especializou-se na gestão de marcas de luxo. Recentemente foi referenciado como uma das 100 personalidades mundiais mais influentes na área.

A “Diversity in Luxury”, uma organização dedicada ao segmento de luxo moderno, com sede em Londres, destacou-o como uma das 100 personalidades mundiais mais influentes na indústria do luxo. Como recebeu essa notícia? Algo muda, no seu dia a dia, com esse reconhecimento?

É importante esclarecer que esta lista é dos líderes mais influentes a promover os novos códigos do Luxo Moderno, ou seja, é uma lista que destaca o trabalho de profissionais num nicho muito específico. Há, seguramente, outros profissionais do setor do luxo mais influentes do que eu, mas cujo trabalho não promove os novos códigos do luxo e por esse motivo não foram escolhidos. Dito isto, sinto-me lisonjeado por o meu trabalho ser reconhecido a nível internacional.

Recebi a notícia com muita surpresa, mas não muda nada na minha vida quotidiana. Estas coisas são efémeras e dentro de dois ou três meses já ninguém falará disto.

 

Na base desse destaque, a mesma organização realça o papel que tem tido como palestrante por todos os cantos do mundo. Em 2024, por quantos países passou e como tem sido essa experiência?

Sim, eu faço palestras há 12 anos e investi em desenvolver uma carreira de palestrante profissional, a nível mundial. Mais de metade do meu trabalho é feito fora do país e faço palestras em 4 idiomas. Em 2024, fiz palestras em 14 países, em 3 continentes. A experiência tem sido fabulosa. Eu gosto muito de falar em público, sinto-me bem em cima dum palco a partilhar ideias e inspirar profissionais. Frequentemente, recebo mensagens dos públicos em todos os países dizendo que se sentiram muito inspirados a ouvir-me e isso é gratificante para mim. Gosto muito de viajar, conhecer novos lugares e sou fascinado pela diversidade cultural que existe no Mundo. Por isso, é um privilégio para mim poder trabalhar, viajar, conhecer pessoas e aprender também com elas.

 

Quando teve a consciência de que o seu futuro profissional passava pela área do marketing de luxo, de negócios internacionais, vendas e marketing de serviços?

Sempre gostei de marketing, vendas e internacionalização. Trabalho nessas áreas desde os meus 24 anos. Mais tarde, durante a crise internacional de 2008, apercebi-me de muitos sinais de alarme: problemas na Bolsa de Wall Street, falência do banco Lehman Brothers, crise do imobiliário americano sub-prime, intervenção do FMI na Grécia. É nos momentos de crise que devemos investir e mudar. Por esse motivo, eu decidi diferenciar-me de outros profissionais de marketing e, nessa altura, investi numa pós-graduação em Gestão de Marcas de Luxo. Fui para Madrid estudar e regressei com essa especialização muito diferenciadora, que me permitiu começar a trabalhar com marcas de excelência.

Foto: Freddy Ku

 

Sabemos mais do seu percurso depois da passagem pela Porto Business School do que antes. Sabemos que é natural de Guimarães. Onde nasceu e qual foi o seu percurso estudantil até chegar ao Porto?

Nasci em Guimarães e morei no centro da cidade, perto da Avenida de Londres, mas naquela altura essa avenida ainda não existia. Fiz a escola primária em Santa Luzia. Depois, antes de ir para o Liceu de Guimarães, ainda estudei dois anos no ciclo preparatório, que naquela altura funcionava no edifício onde, atualmente, está a Câmara Municipal. Quando terminei o liceu, fui estudar Gestão para o Porto aos 18 anos. Depois fui para Londres, durante um ano, fazer um curso de especialização em Comércio Internacional e, em seguida, fiz o estágio de seis meses numa empresa na Alemanha. Regressei a Portugal e trabalhei 18 anos na indústria exportadora em Guimarães, até que decidi deixar a indústria, parar um ano para voltar a estudar e fazer um MBA na Porto Business School.  

 

Em abril de 2021, iniciou uma colaboração com o Jornal de Guimarães em Revista que se prolongou durante 12 meses. Como foi essa experiência?

Foi uma experiência desafiadora, mas muito gratificante. Desafiadora porque eu nunca tinha assumido o compromisso de escrever todos os meses e, como o meu negócio é muito exigente, por vezes tinha que “inventar” tempo para escrever. Mas foi muito gratificante poder partilhar ideias com os leitores da minha cidade. Depois tive de deixar essa colaboração, por manifesta falta de tempo, pois nessa altura decidi expandir o meu negócio no mercado internacional e todo o tempo era pouco para dedicar ao crescimento da minha empresa.

 

“Guimarães tem uma identidade muito própria, assente na sua história, nos seus monumentos, na sua gastronomia, no centro histórico, no facto de ser Património Mundial da Humanidade, mas também no fervor, bairrismo e orgulho dos seus habitantes.”

 

Num dos artigos publicados escreveu que “Todos somos embaixadores da nossa terra”. Tem sido um bom embaixador da terra que o viu nascer?

Sim, acredito que cada um de nós pode e deve dar o seu pequeno contributo para promover a nossa cidade e o nosso país. Eu procuro ser um bom “embaixador” de Guimarães. Nas minhas viagens pelo Mundo, falo sempre da cidade, conto um pouco da história, mostro fotos no telemóvel e incentivo as pessoas a virem visitar.

 

Mais adiante, num outro texto, escreve que a “Marca de Guimarães somos todos nós” e que a “cultura nos torna melhores pessoas”. Sente, nas suas viagens, que Guimarães tem uma identidade muito própria, ou é mais uma cidade como tantas outras que vai conhecendo?

Guimarães tem uma identidade muito própria, assente na sua história, nos seus monumentos, na sua gastronomia, no centro histórico, no facto de ser Património Mundial da Humanidade, mas também no fervor, bairrismo e orgulho dos seus habitantes. Todos estes ingredientes conferem uma identidade única e especial à cidade. Os turistas portugueses e estrangeiros sentem bem isso, quando cá vêm.

 

Sem querermos ser muito exaustivos quanto ao que foi escrevendo, chegou a definir quatro parâmetros para algo se aproximar da excelência. “Experiências - emoção – exclusividade – envolvimento”, são esses os “quatro es” apontados. O que se deve potenciar mais para Guimarães atingir esse patamar de excelência?

Acho que Guimarães já está no patamar da excelência, pela sua beleza, pela sua história, pela sua oferta cultural, pela sua gastronomia. Guimarães proporciona experiências inesquecíveis e muita emoção, tanto aos visitantes, como a quem cá vive. O facto de ser o Berço da Nação e ter sido a primeira capital de Portugal, conferem-lhe um caráter de exclusividade que mais nenhuma cidade em Portugal pode ter e sentir. E os visitantes sentem o envolvimento e o acolhimento dos vimaranenses, sentem o orgulho que estes têm na sua cidade e sentem-se bem aqui.

Seguramente, que se pode fazer mais e melhor, mas o desafio da melhoria contínua é estimulante.

 

Foto: Ricardo Pereira da Silva

Guimarães será a Capital Verde Europeia em 2026. Certamente já esteve em algumas cidades com essa atribuição. A questão ambiental pode ser considerada um bem de luxo que Guimarães poderá “vender” internacionalmente, para além da sua história e património histórico?

Sim, já estive em algumas dessas anteriores capitais verdes: Oslo, Copenhaga, Tallin, Estocolmo, Amesterdão, Bruxelas e Barcelona. Guimarães está de parabéns por conseguir em breve juntar-se a este clube. A população em geral e as gerações mais jovens em particular, estão cada vez mais preocupadas em reduzir o impacto nocivo no ambiente. Há estudos credíveis que confirmam que mais de metade da população jovem a nível mundial prefere marcas, produtos e destinos que tenham políticas consistentes de sustentabilidade ambiental. Assim, eu acho que existe essa oportunidade a explorar, para captar turistas que valorizam os destinos com práticas ambientais positivas. O desafio é saber comunicar essa vantagem de forma criativa e apelativa para atrair turismo e investimento de qualidade.

 

Para finalizar as questões sobre Guimarães, indo ao futebol, costumam, os adeptos, dizer que “somos únicos”. Segue o futebol? Identifica-se, no exterior, como sendo um vimaranense e vitoriano?

Apesar de eu ser filho de um ex-jogador de futebol, que fez história no Vitória de Guimarães, nos anos 50 do século passado - e de quem eu muito me orgulho - confesso que não sigo o futebol regularmente. Sou vimaranense e, naturalmente, tenho simpatia pelo Vitória. Curiosamente, já aconteceu várias vezes nas minhas viagens, em diferentes países, em conversa de jantar, eu dizer que sou de Guimarães e algumas pessoas me dizerem: Vitória de Guimarães!  Conhecem o nome do clube, por causa das competições internacionais e isso deixa-me contente.

 

“É preciso conhecimento novo e novas ideias para enfrentar os problemas e superar a concorrência.  Eu acredito que é importante estudar e aprender para evoluir com sucesso. Felizmente, gosto de ler e de aprender.”

 

Retomando o seu percurso profissional, refere frequentemente a importância, no final dos anos 80, da leitura do livro "A Paixão pela Excelência", de Tom Peters e Nancy Austin. Essa referência ainda continua atual?

A leitura desse livro no final dos anos 80 foi muito marcante para mim. Não o recomendo agora, pois, entretanto, já passaram quase 40 anos e algumas das ideias e exemplos nesse livro terão ficado obsoletos. Aprendi que as coisas feitas com excelência adquirem mais valor e podem ser vendidas a preço mais alto. E aprendi que a excelência é feita pelas pessoas, está no comportamento de rigor, cuidado, exigência, atenção ao detalhe, carinho e paixão que colocamos naquilo que fazemos. A excelência depende sobretudo de cada um de nós. Este livro mudou para sempre o meu comportamento e a minha forma de trabalhar.

 

Ao longo dos anos manteve uma relação próxima com escolas especializadas em marketing, management e mesmo em comércio internacional. Qual a importância da frequência desses cursos e qual o que mais o marcou?

O mundo e o mercado mudam todos os dias. No mundo dos negócios, a concorrência é crescente, os problemas são sempre diferentes e por isso é difícil ter sucesso com conhecimento antigo. É preciso conhecimento novo e novas ideias para enfrentar os problemas e superar a concorrência.  Eu acredito que é importante estudar e aprender para evoluir com sucesso. Felizmente, gosto de ler e de aprender. É difícil dizer qual o curso que mais me marcou. Estudar Comércio Internacional em Londres aos 24 anos numa escola internacional com alunos dos cinco continentes e viver um ano naquela capital, permitiu-me a minha primeira experiência internacional e abriu-me para o Mundo. Fazer o MBA na Porto Business School aos 42 anos foi transformador. Conheci professores e colegas que potenciaram o meu desenvolvimento para níveis que eu não sabia que poderia conseguir. Preparou-me muito bem para singrar no mundo dos negócios. E, por fim, estudar gestão de marcas de luxo em Madrid aos 47 anos abriu-me as portas para o nicho de mercado da excelência e moldou a minha forma de pensar.

Todos os cursos me marcaram muito.

Foto: José Diogo Lucena

 

Foi dito que não falaríamos mais do que escreveu no JdG. No entanto, há uma frase que deixa algo pendente ou que aponta um caminho que, dizemos nós, não gostará de trilhar. A frase é a seguinte: “O luxo, que antes era consumido sobretudo por prazer pessoal, passa a ser consumido mais por afirmação social, num processo de democratização, tornando-se mais massificado, presente em mais geografias, menos exclusivo, mais consumido para ser mostrado e menos para ser entendido e sentido”. É assim mesmo?

Essa frase foi escrita num determinado contexto, num artigo onde eu explicava a evolução do luxo ao longo dos tempos. Mas é mesmo assim como escrevi. O luxo é um fenómeno sociológico de consumo muito especial, é uma forma de consumir, é uma forma de pensar, sentir e de estar na vida, onde os clientes têm muito dinheiro, compram por desejo e não por necessidade e, por isso, valorizam não só a qualidade e design dos produtos, mas valorizam e pagam o prestígio da marca. E o prestígio da marca constrói-se com ingredientes intangíveis como a exclusividade, a simbologia e a história da marca. Antigamente, o luxo era consumido apenas pelas elites, sobretudo por prazer pessoal.

Lentamente, as marcas de luxo foram massificando, democratizando e procurando clientes nas classes médias emergentes, que compram sobretudo por afirmação social e isso diluiu, de alguma forma, a exclusividade e prestígio dessas marcas, agora, mais massificadas. Refere na sua pergunta que esse é um caminho que eu não gostaria de ver as marcas a trilhar. Não gosto dessa massificação, pois retira-lhe exclusividade e prestígio que mantém o desejo sempre latente.

Atualmente, a maioria das marcas de luxo, sobretudo no setor da moda, está a baixar vendas drasticamente e a viver uma crise preocupante. Curiosamente, as poucas marcas de luxo que sempre mantiveram uma gestão baseada na exclusividade, no prestígio e recusaram massificar, são as únicas que, neste momento, continuam a subir vendas e escaparam à crise generalizada do setor. A gestão de marcas de luxo tem regras muito próprias, diferentes da gestão de outros negócios. E os erros de gestão, que por vezes nos trazem ganhos no curto prazo, acabam sempre por se pagar mais tarde.    

 

Pelo que sabemos, fala cinco idiomas, já viajou por todos os continentes e é apaixonado pela diversidade cultural do mundo. Dos países que já conheceu ou onde já residiu, qual o que mais se identifica consigo? Ou, por outras palavras, qual o que mais se identifica com a “excelência” que defende na sua vida profissional?

Se me coloca a pergunta dessa maneira, eu respondo que me sinto muito bem nos países nórdicos pelo comportamento cívico impecável das populações, em Itália, pela beleza emocionante de todo o país e no Brasil pela alegria de viver. O país onde mais senti a cultura do respeito pelo próximo foi o Japão. Os países mais organizados que visitei, onde senti que tudo funciona, foram a Suíça e Singapura. Mas, o país onde mais gostei de viver, pelo estilo de vida, e provavelmente voltarei a viver lá, é Espanha.

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