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Adaptar o comboio, BRT… e teleférico são hipóteses para a mobilidade

Tiago Mendes Dias
Política \ quinta-feira, julho 29, 2021
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Na reunião de Câmara, foi apresentado um estudo preliminar com hipóteses para a resolução dos constrangimentos nos principais eixos viários. Oposição criticou timing próximo às Autárquicas.

O estudo apresentado na reunião do executivo municipal desta quinta-feira reconhece que Guimarães sofre de problemas de mobilidade nas três principais estradas nacionais que cruzam o seu território: a 101, a 105 e a 206. E adiantou algumas propostas para os solucionar: melhor aproveitamento da linha ferroviária de Guimarães, paralela ao eixo viário entre a cidade e Lordelo, a implementação do BRT – acrónimo inglês para bus rapid transit – na ligação a Ronfe e na ligação às Taipas e ainda a criação de um teleférico para ligação à vila termal, com uma extensão turística até ao Castro de Sabroso e à Citânia de Briteiros.

Enquanto município de referência no Vale do Ave, Guimarães tem muito “povoamento” adjacente aos eixos viários, faltando-lhe por isso “espaço canal para melhorar a mobilidade”, realçou a arquiteta Anita Pinto, responsável pela apresentação do estudo, a par de Álvaro Costa, especialista em transportes da Universidade do Porto.

O eixo onde a presença de “habitação, serviços e indústria” à face da estrada é mais densa é o da Nacional 105. O troço entre Lordelo e a cidade apresenta “menor flexibilidade para duplicar vias que garantam a melhoria de serviço”, pelo que o estudo propõe a reformulação do uso da ferrovia. Neste momento, o comboio “não é competitivo” face a uma rodovia “bastante congestionada”, porque o “serviço normal” da Linha de Guimarães tem paragens em todos os apeadeiros, mesmo naqueles em que a procura é praticamente nula, e o “serviço rápido” tem paragens em todas as estações, realçou Álvaro Costa. O estudo propõe o reforço da conexão com Lousado, com um aumento dos serviços diários no eixo de 16 para 54, com uma "cadência de 20 minutos", sem incluir os serviços de longo curso já existentes.

Para os habitantes da zona mais a sul do concelho procurarem mais o comboio, Anita Pinto defendeu a melhoria do acesso às estações e apeadeiros, dando o exemplo de Nespereira – “a acessibilidade é péssima” - ou até a relocalização de alguns desses pontos. Essa reformulação do uso do comboio para um fim mais urbano, acrescentou, tem o inconveniente de suprimir “alguns serviços de longo curso”, numa altura em que o serviço do Alfa Pendular está interrompido. 

A disponibilidade de espaço canal na EN206 está também condicionada, mas não tanto como na 105, sendo possível implementar a via dedicada para transportes públicos (BRT) na maior parte do troço; a operação só não é possível junto à área comercial do Espaço Guimarães e na centralidade de Ronfe, frisou a arquiteta. Nesses dois casos, a solução pode passar pela alteração do trajeto da via dedicada ou pelo uso exclusivo da Nacional para a via dedicada, criando-se vias alternativas para o automóvel.

Quanto à EN 101, está igualmente prevista uma via dedicada para o BRT ou a implementação de um teleférico entre a cidade e a vila termal, com uma extensão até os núcleos da cultura castreja.

Anita Pinto frisou que o BRT, semaforizado, com um sentido em circulação de cada vez, é “uma boa solução e exequível”, embora tenha os custos ambientais da construção de infraestrutura viária, ainda para mais num eixo com falta de espaço canal para se criar uma via dedicada na íntegra; segundo os especialistas, é difícil estabelecer essa via nalguns segmentos de Fermentões, pela “habitação à face da estrada”, e na rotunda de São João de Ponte, antes da reta de Toriz, no sentido norte-sul.

Quanto ao teleférico, a equipa a cargo do estudo procurou saber se o sistema poderia ser aplicado a “cidades de média dimensão”, não com finalidade turística, mas de uso corrente pela população local. Para Anita Pinto, o mecanismo tem a vantagem de não se “estar preso a uma infraestrutura viária”, algo que pode fazer a diferença junto ao parque industrial de Ponte e no acesso às Taipas, através de uma rota que “não invada o seu centro”. Dá ainda a possibilidade de se fazer uma extensão turística on demand – funcionamento aquando da procura. A arquiteta reconheceu, por outro lado, que a opção pode ter impacto visual negativo.

O teleférico é ainda hipótese para servir de anel de transporte na cidade, entre o pavilhão Multiusos e Mesão Frio.

 

Oposição fala em campanha eleitoral… e em soluções baseadas no que propôs em 2017

Na reação à apresentação, a coligação Juntos por Guimarães (PSD/CDS-PP) acusou o executivo liderado por Domingos Bragança de interferir com a “neutralidade” no exercício do poder municipal, determinado pela Comissão Nacional de Eleições a partir de 18 de fevereiro de 2021, a propósito das próximas Autárquicas, marcadas para 26 de setembro.

“É muito interessante perceber projetos desta natureza, mas estamos a 59 dias do ato eleitoral para a eleição dos órgãos autárquicos municipais”, vincou André Coelho Lima na sua intervenção. “Segundo a determinação de 18 de fevereiro de 2021, os órgãos autárquicos estão sujeitos a especial neutralidade desde a data. Não podem participar diretamente na campanha. Procura-se garantir que não haja interferências exteriores quanto ao direito de voto”, acrescentou.

Além disso, o vereador e deputado pelo PSD na Assembleia da República alegou que, na campanha de 2017, a sua força política propôs quatro vias canal para descongestionar o trânsito. “Aquilo que foi apresentado há quatro anos assentava num pressuposto de vias canal para transportes públicos”, disse.

De resto, André Coelho Lima frisou “não simpatizar” com um modelo que propõe alternativas diferentes para Guimarães. Para o vereador, o aumento do uso da linha ferroviária entre Lordelo e a cidade, para se descongestionar o tráfego na EN 105, exige o aval da CP. “Não sabemos quanto custa, não sabemos o ónus para os cofres do município se eles não cobrirem a despesa. Não é sério apresentar algo assim indefinido a dois meses das eleições”, disse. Quanto à solução do teleférico até às Taipas, com extensão para a citânia, o social-democrata classificou-a de “esdrúxula”.

Já Bruno Fernandes criticou o facto de se apresentarem “estudos preliminares” numa fase tão avançada do mandato. “Esta indefinição leva a que se criem ideias na população de que poderá ser assim, poderá ser assado. Depois até descredibilizam a ação do município”, disse. O candidato da coligação JpG a Santa Clara nas próximas eleições disse mesmo que um estudo preliminar sobre constrangimentos que não foram resolvidos nos últimos 32 anos – o tempo de poder do PS – é a prova de que o executivo não quis saber da mobilidade nos dois últimos mandatos. “Guimarães não quis saber da sua mobilidade. Não temos bom acesso às principais centralidades fora da cidade. Isso obriga a encontrar soluções esdrúxulas”, referiu.

 

Domingos Bragança realça que é preciso analisar “futuro” para obter fundos do PRR

O presidente da Câmara rejeitou que a apresentação do estudo influencie a campanha para as próximas Autárquicas, tendo ainda vincado que esta reflexão sobre “a mobilidade do futuro” pode conferir vantagem a Guimarães na hora de receber financiamento do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), gizado pela União Europeia para a resposta à pandemia.

“No PRR, quem tiver projetos avançados de mobilidade, vai desenvolver os sistemas com BRT para via dedicada”, disse. “Temos de propor ao sistema tecnológico os fundos comunitários. Já fiz essas diligências. Guimarães poderá ter esse caráter inovador. Quis apresentar este estudo de mobilidade para o futuro, para os próximos 10 anos”, acrescentou.

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