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“Corte do trânsito é a morte do comércio tradicional”, defende ACTG

Tiago Mendes Dias
Economia \ sexta-feira, novembro 11, 2022
© Direitos reservados
Associação reprova corte de trânsito previsto para a rua de Santo António e pede mais serviços para a rua, bem como “estacionamento de proximidade”, alegando que parque de Camões é insuficiente.

A eventual pedonalização da ala nascente da Alameda de São Dâmaso, da ala nascente do Toural e da rua de Santo António, a começar pelos cortes de trânsito previstos para os fins de semana de dezembro, mereceu de novo a reprovação da Associação de Comércio Tradicional de Guimarães (ACTG); desta feita, o palco foi a reunião do executivo municipal, com a presidente, Cristina Faria, a pedir ao presidente da Câmara Municipal, Domingos Bragança, para não ficar inscrito na história da autarquia como o responsável pelo fim do comércio tradicional naquela rua.

“Esperamos que o município altere a sua sensibilidade. Espero que o presidente tenha sensibilidade. Não queira ser recordado como o homem que causou a morte do comércio de Guimarães”, pediu, após terminada o período de ordem do dia.

A dirigente sustentou a preocupação face ao corte do trânsito o abaixo-assinado endereçado à autarquia, em que 179 dos 189 comerciantes inquiridos naquela área da cidade se mostraram desfavoráveis à medida. A ACTG crê que o corte vai mudar a face comercial da rua, privilegiando o aparecimento de bares, restaurantes e alojamento local.

“Partilhámos o testemunho de um comerciante em Espanha que diz que o corte do trânsito é a morte do comércio tradicional. Começa a haver um género diferente de comércio: bares, restauração e alojamentos locais, virados para o turista e não para os habitantes da cidade”, frisou. Esse encerramento é ainda um convite aos vimaranenses irem “para o shopping fazer compras”, prosseguiu.

Outra reivindicação é o “estacionamento de proximidade”: Cristina Faria crê que o parque de Camões, com os seus 439 lugares – 220 são avenças para moradores, alega – é insuficiente para fixar os clientes e crê que o fecho ao trânsito na rua de Santo António vai fazer migrar compradores de outras cidades para Braga, onde, a seu ver, o estacionamento no centro da cidade é mais acessível, mesmo que mais caro; para ilustrar essa tese, deu o exemplo de duas clientes no seu estabelecimento, uma de Celorico de Basto e outra de Mondim de Basto.

“Todos os sábados vêm passear para Guimarães. Se tiverem o trânsito cortado e não tiver onde estacionar, o que já agora é muito difícil, ela disse que se mete na autoestrada e, com mais cinco ou 10 minutos, estaciona em Braga, onde tem estacionamento na zona comercial”, referiu.

As outras soluções já existentes em redor – parques de estacionamento de Vitrus, Estádio D. Afonso Henriques e recinto da feira semanal, à exceção das sextas-feiras – não servem, no seu entender. São precisas soluções mais próximas. “Tem de se criar estacionamento de proximidade naquelas zonas. Não é mandar-nos para o estádio ou para o Vila Flor”, acrescentou.

A presidente da ACTG salientou ainda que a rua de Santo António precisa de serviços que “obriguem as pessoas a ir à cidade” e pediu à Câmara Municipal para não estragar o Natal de quem ali trabalha. “O fim de semana é a altura do ano em que mais vendemos. Cortando o trânsito, não havendo atividades muito fortes e não permitindo às pessoas que venham assistir às atividades e fazer as compras, porque se forem só fazer atividades não vão fazer compras, vão ver a atividade. Isto tem de ser muito bem pensado. O Natal, para muitos comerciantes, é uma bolha de ar. Não nos estraguem o Natal”, disse.

 

A “cobertura” e o Natal

Confrontado com a posição da ACTG, Domingos Bragança defendeu que “todas as cidades que condicionaram o trânsito do carro no centro das cidades ganharam em vida, em reunião de comunidade, em comércio e em serviços”, dizendo, porém, estar aberto ao diálogo com “as associações representativas do setor”.

O presidente da Câmara adiantou que o projeto do arquiteto Ricardo Rodrigues para a pedonalização do traçado prevê colocar os passeios e o eixo rodoviário das ruas à mesma cota para mudar a “perceção” dos utentes face ao usufruto da rua.

O autarca reconhece que o corte do trânsito requer a aplicação de “medidas sociais e culturais” que mantenham a rua viva para atrair gente e deu até a sugestão de reabilitar um projeto elaborado há cerca de 30 anos: o de colocar uma cobertura sobre a rua de Santo António, à moda de uma galeria comercial, como a de Milão.

A presidente da ACTG mostrou-se, contudo, cética perante a alteração: “Não nos adianta ter uma rua coberta quando as pessoas não têm um sítio para pôr o carro. Não adianta ter uma rua lindíssima, toda bem projetada, com coberturas. Não têm sítio para estacionar? As pessoas não vêm”.

Já o vereador com os pelouros da cultura e do turismo, Paulo Lopes Silva, realça que as alterações de trânsito previstas para dezembro visam sobretudo acomodar as iniciativas de animação de rua das celebrações natalícias da cidade, funcionando como “testes” para o futuro. Referiu também que as políticas públicas quanto à vida na cidade devem ter em conta as preocupações de todos os que nela participam e não só as de um setor. “Devem ter em conta as preocupações do comércio tradicional e a qualidade de vida de quem nela vive”, realça.

O número três do executivo municipal reconheceu que a rua de Santo António precisa de “mais atividades”, na sequência de uma reunião com a ACTG, mas lembrou que isso só é possível com o corte do trânsito; a seu ver o evento organizado por uma empresa do ramo alimentar, a Socorama, em 15 de outubro, é precisamente um exemplo do que se pode fazer na rua com ela pedonalizada.

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