Doentes do Ave ganham tempo com unidade de hemodinâmica, um “parto difícil”
O primeiro cateterismo do laboratório de hemodinâmica do Hospital Senhora da Oliveira – Guimarães (HSOG) realizou-se na manhã desta quarta-feira e correu “tudo bem”. “A primeira doente foi de Fafe. Tinha uma cardiopatia valvular. Estava programada para ser intervencionada cirurgicamente e precisava deste exame para vermos a anatomia coronária. Isto permitiu-nos avançar neste processo. Estava à espera do cateterismo há três semanas e teve-o agendado para hoje [quarta-feira]. Fez o exame sem complicações”, descreve Francisco Castro Ferreira, responsável pela nova unidade do serviço de cardiologia do HSOG.
O evento corporiza o sentimento de “celebração” que se acomete da equipa, “muito feliz e motivada”, descreve o cardiologista, mas que se deve também estender aos utentes da área da referenciação. “Estamos cá para proporcionar aos doentes o melhor tratamento possível”, observa.
O presidente do Conselho de Administração do HSOG, Henrique Capelas, crê que o momento deve ser celebrado, quer por “aumentar a sua diferenciação e a sua complexidade”, quer por responder a um dos principais fatores no tratamento de um doente cardíaco: o “tempo”. A nova unidade está, porém, equipada há cinco anos, o tempo que esperou para se enquadrar na Rede de Referenciação Hospitalar (RRH) do Serviço Nacional de Saúde (SNS). “Foi um parto difícil, ligeiramente mais demorado do que os partos normais”, vincou, antes de agradecer ao ministro da Saúde, Manuel Pizarro, e ao diretor executivo do SNS, Fernando Araújo, que tornou possível a abertura do laboratório em três meses, após um “trabalho duríssimo”.
Ainda sem a “via verde coronária”, o laboratório funciona à segunda-feira, à quarta-feira e à sexta-feira, disponibilizando cateterismos, angiografias, angioplastias ou estudos invasivos de anatomia coronária para utentes que apresentem lesões obstrutivas do foro cardíaco, possivelmente responsáveis por enfartes, ou angina de peito. Nesses serviços, os utentes da área de referenciação do HSOG – os de Guimarães, de Vizela, de Fafe, de Cabeceiras de Basto e de Mondim de Basto, bem como aqueles que de Famalicão, de Felgueiras ou de Celorico de Basto que o utilizem preferencialmente -, deixam de ter de se deslocar a Braga, o que, no entender de Francisco Castro Ferreira, melhora a “logística dos transportes” do hospital.
“A questão tinha a ver com a logística dos transportes. Hoje tivemos dois doentes que estavam programados, mas temos sempre as situações dos doentes que estão internados e que vão ao serviço de urgência (…). Temos uma rede de transportes assegurada pelo serviço de cardiologia do Hospital Senhora da Oliveira, em Guimarães, em colaboração com o Hospital de Braga, mas isso trazia muitas dificuldades do ponto de vista logístico e de segurança dos doentes. Vamos tentar minimizar essas situações”, descreve o médico.
Hospitais de Guimarães e de Braga vão funcionar em rede
A inclusão de Guimarães na RRH prevê um funcionamento articulado entre o HSOG e o Hospital de Braga. O diretor do serviço de cardiologia do Hospital de Braga, Jorge Marques, participou no primeiro cateterismo, depois de um período de formação por parte dos operacionais da unidade homóloga bracarense. “Deveremos colaborar na formação dos profissionais do hospital de Guimarães e, depois, continuar a trabalhar nos outros, proporcionando uma resposta de maior proximidade”, disse aos jornalistas.
O médico realçou que os doentes servidos por uma unidade de hemodinâmica “já não tinham de ir para o Porto desde 2011”, altura em que o Hospital de Braga passou a dar “resposta integral”, com o novo hospital, mas admite que a unidade de Guimarães “aumenta a segurança do sistema e dá mais proximidade aos doentes da área sul do Minho”. Jorge Marques frisou ainda que o funcionamento dos serviços de hemodinâmica não é “fechado à área de residência”, embora cada unidade sirva fundamentalmente a área de referenciação dos doentes.
O responsável pelo laboratório de hemodinâmica de Guimarães confirmou esse funcionamento em rede, com tratamentos a serem feitos em Guimarães e outros em Braga. “Os serviços trabalham em cooperação desde sempre. Não há necessidade de os doentes irem para o Porto. Não é uma questão territorial, é uma questão de complementaridade, de colocar o SNS a funcionar”, realçou Francisco Castro Ferreira, antes de esclarecer que os equipamentos sempre estiveram “prontos a funcionar” nos últimos cinco anos. Foi contudo preciso esperar que a “operacionalidade” da unidade fosse “regulamentada”.
O médico agradeceu ainda “a todos os vimaranenses que se uniram” para que um projeto da cidade e da região fosse “concretizado”, nomeadamente empresários, entidades, associações e Câmara Municipal; o laboratório de hemodinâmica custou cerca de dois milhões de euros, garantidos através da Liga de Amigos do hospital e de mecenato, sem qualquer custo para o Estado.
Diminuir o risco da logística
A vereadora municipal com o pelouro da saúde deslocou-se ao Hospital Senhora da Oliveira, em Guimarães, para um eventual cateterismo e apercebeu-se da “logística” que envolvia o processo de interligação entre o HSOG e o Hospital de Braga para atendimento de doentes. “Não foi preciso o cateterismo, mas sei o que é estar aqui, estarem a ligar para Braga, a perguntar se eu podia ir de urgência fazer o cateterismo e não pude. Havia outra pessoa à minha frente com uma condição clínica mais crítica e foi essa pessoa para a vaga que Braga disponibilizou”, confessou Adelina Paula Pinto.
Por isso, a vereadora realçou que esta quarta-feira é dia de “celebrar” tudo o que se passou e de as pessoas se “sentirem mais seguras” porque têm “uma resposta”. “O Hospital de Guimarães está obviamente mais preparado para dar uma resposta local, não só aos de Guimarães, como aos de toda a área territorial. Isso é muito importante. Por muito que Braga desse apoio, significava sempre um risco para o doente”, vincou.
Adelina Paula Pinto frisou também que o trabalho em rede com o Hospital de Braga deve “continuar”, até para demonstrar a necessidade das “ligações entre os hospitais mais próximos” e “retirar algum protagonismo ao Porto, que acaba por concentrar mais serviços”. “Como Braga, vai fazer uns serviços, Guimarães terá outros em que se especializará”, disse.