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A música que casa Guimarães e Szczecin ressurgiu em “grande nível”

Tiago Mendes Dias
Cultura \ domingo, agosto 22, 2021
© Direitos reservados
O Guimarães Clássico é mais um dos frutos da união entre um violinista vimaranense e uma violetista polaca. Na terceira edição, experiência e juventude fundiram-se em três concertos esgotados.

A Igreja de São Francisco eclodiu numa salva de palmas para reconhecer as interpretações de Vivaldi, Bach e Corelli por uma orquestra de câmara que reuniu 12 músicos, eclética no seu percurso. Num elenco com portugueses como Filipe Quaresma (violoncelo) e jovens violinistas polacas como Nela Zaforemska e Zuzanna Remiorz, prestes a concluírem a formação académica, também constavam dois elementos proeminentes da orquestra da Royal Opera House, em Londres: o búlgaro Vasko Vassilev, 1.º Violino, e o ucraniano Andriy Viytovych, 1.º Viola d’Arco.

Mas o leque de performers que apresentou “Esplendor Barroco” no sábado à noite incluía os próprios organizadores do Guimarães Clássico: Emanuel Salvador, no violino, e Emilia Goch Salvador, na viola d’arco. Conheceram-se em 2014, casaram-se em 2016 e vivem em Szczecin, na costa polaca do mar Báltico, embora com um mínimo de quatro a cinco deslocações anuais a Guimarães, a terra natal do músico.

Dessa união, têm nascido vários “filhos”: o Quarteto de Cordas de Guimarães, no ativo desde 2016, o Szczecin Classic, com estreia na primavera de 2019, e o Guimarães Clássico, que também arrancou nesse ano, mas no verão. “O Guimarães Clássico é a evolução natural do Quarteto de Cordas e também se inspira no Szczecin Classic”, descreve o intérprete vimaranense, de 39 anos.

Orientado para a música de câmara desde a fundação, o Guimarães Clássico brindou o público com três concertos de “grande nível” na edição recém-finda, reitera o músico. “A nossa preocupação é trazer artistas de grande nível. Mesmo neste contexto de limitações, mantivemos a essência do festival intacta”, descreve Emanuel Salvador, diretor artístico do evento. Dentro das limitações ditadas pela pandemia de covid-19, todas as atuações mereceram lotação esgotada, algo que, para o violinista, demonstra a habilidade da música clássica para chegar ao “público em geral”.

Se o concerto de fecho encapsulou todas as dimensões que fizeram o terceiro ano do Guimarães Clássico, a abertura quis mostrar os jovens selecionados pela academia da Baltic Neopolis Orchestra (BNO), em Szczecin, precisamente; todos os anos, a instituição – mais uma das ideias de Emília e Emanuel – premeia seis finalistas com uma bolsa de estudo que lhes assegura uma digressão por vários países. “Damos a oportunidade de tocarem num contexto profissional durante o ano todo, ao mesmo tempo que têm formação com membros da orquestra”, descreve o violinista.

Na quarta-feira, Nela Zaforemska (violino e viola d'arco), Zuzanna Remiorz (violino), Piotr Kosarga (violino), Karolina Bednarz (viola d'arco), Jakub Gajownik (violoncelo) e Monika Krasicka-Gajownik (violoncelo) apresentaram-se na Basílica de São Pedro para interpretarem compositores como Schubert e Brahms em "Grandes obras de música de câmara". “Fizeram um concerto fantástico”, clama.

Já na sexta-feira, o músico de Guimarães atuou com Vasko Vassilev e Andriy Viytovych na homenagem a Astor Piazzolla, o criador do nuevo tango, nascido há 100 anos em Mar del Plata (Argentina).

 

 

A escala “ideal” para a música de câmara

Com limitações mais ou menos severas em virtude da pandemia, o Guimarães Clássico já tem a fórmula bem afinada para dar música ao verão da cidade: “É sempre à base da orquestra com um solista”, refere o diretor artístico.

As orquestras de câmara como a BNO, fundada por Emilia em 2008, com 15 elementos, sem maestro, conseguem-se dividir em formações mais pequenas, como quartetos ou quintetos, nota. E a proximidade dos vários recantos culturais de Guimarães beneficia a flexibilidade necessária à realização de concertos maiores, concertos mais pequenos e sessões de formação.

“Quando pensámos num festival de música de câmara, pensámos que Guimarães era a cidade ideal. O festival tem a componente de masterclass. É bom que seja uma cidade não muito grande, em que toda a gente possa ir rapidamente de um lado para o outro”, explica.

Agradado com a receção do festival desde a primeira edição, quando os cinco concertos estiveram “à pinha”, Emanuel Salvador anseia pelo levantamento das restrições associadas à covid-19 para abrir os espetáculos a “mais público” e as formações a “mais alunos”. Quando olha para o Guimarães Clássico, organizado numa época do ano propícia ao turismo, ainda vê potencial por aproveitar. “É ótimo ter concertos de música clássica de alto nível no pico do verão. Há turistas que podem desfrutar desses concertos”, sugere.

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