Conversas com Paulo César Gonçalves
Entende que "a palavra “autor” é muito mais ampla e toda a gente pode ser “autor”. Ao invés, sustenta que ser “escritor” remete mais para «…um modo de vida, uma profissão».
Correspondendo ao desafio de definir “uma boa conversa”, sustenta que esta deverá acontecer «… sem tabus, sem grandes ensaios», acrescentando que deve ser igualmente um tempo em que cada um possa «abrir-se esperando que os outros também se abram». Contudo, não deixa de salientar que «gosta de escrever, mais do que falar.»
Conversámos sobre as Nicolinas e o “olhar romântico” que não deixa de lançar sobre esse tempo de festa de novos e velhos estudantes, admitindo alguma contradição entre esse romantismo e os novos tempos destas festas centenárias. Festas que frequentemente são apenas recordadas pelo “Cortejo do Pinheiro”, lembrando a propósito a afirmação de alguém que classificava o «número do pinheiro como o eucalipto das Nicolinas».
Gosta desse tempo de festa e do que representa na tradição estudantil, mas não aprova as praxes universitárias por várias razões, mas sobretudo porque nunca aceitou as «imposições do porque sim!». Rejeita por completo esse espírito da praxe enquanto modelo de integração forçada sem qualquer outra alternativa. Tomando a sua experiência de não aceitação, lembra casos de alunos que sofreram violências de vária ordem.
Finalizámos conversando sobre a doença mental e o testemunho que Paulo César Gonçalves tem partilhado. Assume essa exposição como um modo de “acrescentar”, «fazer algo por mim e pelos outros». Rejeita o papel de “herói”, mas entende que o seu testemunho pode ajudar alguém que passe pelas mesmas dificuldades, permitindo-lhe que tenha o ensejo de procurar ajuda. Realça que a doença mental ainda é olhada como um tabu, havendo muita dificuldade dos doentes em assumirem essa condição, pelo que se impunha uma espécie de “saída do armário”.