Conversas#25 |“Estou na política numa perspetiva absolutamente desprendida”
Nasceu em Guimarães e é um apaixonado pelo Vitória; isso faz de si um vimaranense à prova de qualquer disputa?
Nasci em Guimarães, em frente ao estádio do Vitória, na antiga “clínica”. Nasci, cresci e morrerei vimaranense. Disso não há dúvida nenhuma. Vivo intensamente os problemas da minha cidade, do meu concelho. É uma paixão.
Nos anos em que foi aluno na Escola Secundária Martins Sarmento, o antigo “Liceu”, foi apenas um estudante aplicado ou já participava no movimento associativo?
As duas coisas! Entre o 10.º e o 12º ano não podíamos brincar. Tinha um objetivo que era entrar na Faculdade pública, em Lisboa ou Coimbra, um objetivo bem determinado e não podia vacilar a esse nível. Porém, já na altura gostava de participar politicamente, não necessariamente em termos partidários, ainda que fosse já militante da JSD, pelo que participei na organização de manifestações aquando da célebre PGA. Intervim conjuntamente com várias outras pessoas que hoje ainda são meus amigos. Recordo por exemplo o José João Torrinha ou o Pedro Mota Prego.
Chegada a altura de entrar na Universidade, escolhe Direito. Porquê?
Sempre gostei muito de ler, sempre gostei muito de escrever. O curso de Direito tem, à partida, essa base fundamental da parte da escrita, da interpretação. Por outro lado sempre gostei da componente da administração da Justiça. Além disso, o meu gosto pela política, e sabendo que em Direito selecionam diversas matérias que têm componente política, foi o que, basicamente, me levou a essa escolha.
É na Faculdade de Direito que terá uma efetiva intervenção associativa, chegando a vice-presidente da Associação de Estudantes.
No meu primeiro ano integrei uma lista à Assembleia de Representantes, começando aí a primeira intervenção. Mais à frente, talvez no 3.º ano, fui eleito, num primeiro ano, Secretário-geral da Associação Académica da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, e no ano seguinte acabei por assumir a vice-presidência.
Nesse primeiro ano encontrámos na Associação Académica uma situação muito complicada sob o ponto de vista económico e financeiro, dado que tinha uma gráfica associada, com 10 ou 20 funcionários, e na altura com salários em atraso, uma situação muito problemática. Ao fim de algum tempo conseguiu-se fazer uma reestruturação e entrou-se “nos carris”. Mas foi um ano particularmente difícil e acabei por ser introduzido, não só na lide associativa propriamente dita, mas também na gestão.
Foram anos enriquecedores. A vida associativa permite-nos contactar com muita gente e isso enriquece-nos sempre.
Sobre a atividade política, adere muito jovem ao PSD; porquê?
Quem me conhece sabe qual é o meu quadro estrutural de valores, mas confesso que o primeiro fundamento que me levou a estar onde estou, chama-se professor Cavaco Silva. Foi uma pessoa que, enquanto Primeiro-ministro, trouxe um desenvolvimento para o nosso país que nem antes tínhamos, nem depois voltámos a ter. Temos essa dívida de gratidão com o professor Cavaco Silva. Além disso, o PSD é um partido que conseguia ser, o que muitas vezes se diz, um “albergue espanhol”. Regra geral conseguia-se fazer conviver liberais, sociais-democratas, sociais-cristãos e com isto conseguia-se fazer permanentes sínteses e ao fazer permanentes sínteses, estava-se a fazer permanentes reformas. Por isso se dizia que era um partido claramente reformista. O país ficou profundamente marcado por reformas feitas pelo PSD.
A sua entrada na vida política local dá-se na transição da década de 1980 para a de 1990, um tempo rico da política vimaranense.
A riqueza está muitas vezes associada à turbulência porque gera permanente inconformismo, sempre à procura de algo mais. Foi nesses anos também que surgiu uma tendência para a bipartidarização a nível local e a nível nacional, o que levou a uma maior propensão, sobretudo a nível municipal, para maiorias absolutas.
Tem uma imagem pública de alguma discrição e racionalidade mas gostava de o imaginar num outro ambiente que também lhe é querido; como se comporta o César Teixeira na bancada do estádio D. Afonso Henriques num “Vitória – Braga”, bem quente. Temos o mesmo César Teixeira, ou outro bem diferente?
Já foi pior! Dependendo da perspetiva... já fui mais impulsivo, com uma mola na cadeira. Depois o tempo acaba por nos moderar. Porém, o Vitória tira-nos alguma racionalidade na apreciação e fazemos alguns comentários que nem sempre se enquadram naquilo que é o normal quotidiano. Mas se não fosse assim não era vivido com a mesma paixão. Quando passar a ver o Vitória de modo demasiado racional, provavelmente já não estarei com a mesma paixão e emoção. Embora possa ser redutor, é um facto que a vitória na Taça de Portugal foi um dos dias mais felizes da minha vida.
Enquanto ator político tem uma postura de claro resguardo da sua vida privada, utilizando as redes sociais apenas como extensões da sua atividade política.
Já me vi como ator político, no sentido de assumir responsabilidades, desafios, ambições. Hoje em dia ainda tenho “bichinho”. Há uns anos quando abandonei a presidência da Comissão Política do partido, pensei que dificilmente voltaria à atividade partidária. Acabei por regressar porque me fizeram sentir que seria útil, mas é algo em que estou numa perspetiva absolutamente desprendida. Não julgo ninguém quanto à forma como utiliza as redes sociais; cada um faz da sua vida aquilo que bem entende. Eu não sinto necessidade de projetar para a esfera pública algo que é pessoal.